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Um dia eu me senti como se fora

O infeliz Ahasvero legendário

E andei no mundo triste e solitário,

Sentindo frio n'alma sofredora.

Sonhei na morte a estrada salvadora

Ao meu grande martírio imaginário,

E sem notar o meu trágico desvário,

Afundei-me na treva aterradora.

Tantas vezes a Minh ‘alma enferma e aflita

Sonhou a paz nirvânica, infinita,

E apenas tenho a dor que me devora.

Ó Senhor, abrandai as minhas penas,

Eu sou inda, entre as lágrimas terrenas,

Uma lama mortal que sofre e chora.

Antes a nossa vida terminasse

No turbilhão de pó da sepultura,

Antes a morte fosse a noite escura

Onde o ser nunca mais se despertasse.

Ah! Se a nossa existência se acabasse,

Cessaria de certo a desventura!

Contudo a vida é o bem que se procura,

Morrer é ver a vida face a face.

Todavia, se sofro, ó Deus clemente,

É que sou criminoso, o delinquente,

E o enfermo sem paz e sem saúde.

Perdoai a Minh ‘alma se blasfemo,

Ponde em meu coração o dom supremo

Da humildade que é auréola da virtude."

Arcanjjus Negrus
Enviado por Arcanjjus Negrus em 19/02/2016
Reeditado em 19/02/2016
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