O ébrio.

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer

Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou.

Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer.

Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou...

Só nas tabernas é que encontro meu abrigo.

Cada colega de infortúnio é um grande amigo,

Que embora tenham, como eu, seus sofrimentos,

Me aconselham e aliviam o meu tormento.

Já fui feliz e recebido com nobreza. Até

Nadava em ouro e tinha alcova de cetim

E a cada passo um grande amigo que depunha fé,

E nos parentes... confiava, sim!

E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo então:

O falso lar que amava e que a chorar deixei.

Cada parente, cada amigo, era um ladrão;

Me abandonaram e roubaram o que amei.

Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar:

Quando eu morrer, à minha campa nenhuma inscrição.

Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar

Este ébrio triste e este triste coração.

Quero somente que na campa em que eu repousar

Os ébrios loucos como eu venham depositar

Os seus segredos ao meu derradeiro abrigo

E suas lágrimas de dor ao peito amigo.

VICENTE CELESTINO

Arcanjjus Negrus
Enviado por Arcanjjus Negrus em 11/05/2017
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