Bem-vindo ao futuro - trechos escolhidos

"Bem-vindo ao futuro: uma visão humanista sobre o avanço da tecnologia", de Jaron Lanier. Saraiva, 2012.

Reflexões muito lúcidas de um dos nerds mais envolvidos com o design de tecnologia voltado para as pessoas. Importante pensar esse lado do avanço tecnológico, e ao menos perceber que os "grandes" estão lucrando com a perversão/sabotagem dos ingênuos ideais dos primórdios da ampliação da internet para pessoas.

Trechos escolhidos:

Os computadores ficaram milhões de vezes mais poderosos e imensamente mais comuns e mais conectados desde o início de minha carreira - o que não foi muito tempo atrás. É como se você se ajoelhasse para plantar a semente de uma árvore e ela crescesse tão rápido que engolisse todo o seu quarteirão antes de você conseguir se levantar. P.24 Este revolucionário digital ainda acredita na maioria dos adoráveis e profundos ideais que motivaram nosso trabalho tantos anos antes. No centro de tudo havia a doce crença na natureza humana. Acreditávamos que, se déssemos autonomia às pessoas, o resultado seria mais positivo do que negativo. P.31 Uma série interminável de estratagemas apoiados por gigantescos investimentos incentiviu jovens que entravam no mundo on-line pela primeira vez a criar presençaa padronizadas em sites como o Facebook. Interesses comerciais promoveram a ampla adoção de designs padronizados como os blogs, e esses designs incentivaram o uso de pseudônimos em pelo menos alguns aspectos de seus designs, como os comentários, em vez da orgulhosa extroversão que caracterizou a primeira onda da cultura da web. // Em vez de pessoas sendo tratadas como as fontes da própria criatividade, sites de abstração e agregação comercial apresentavam fragmentos anônimos de criatividade como produtos que poderiam ter caído do céu ou ter sido desenterrados do chão, ocultando as verdadeiras fontes. P.33 A Wikipedia, por exemplo, funciona com base no que chamo de ilusão do oráculo, na qual o conhecimento da autoria humana de um texto é suprimido para conceder ao texto uma veracidade super-humana. Textos sagrados tradicionais funcionam exatamente da mesma forma e apresentam muitos dos mesmos problemas. // Essa é mais uma das razões pelas quais por vezes penso na cultura totalitarista cibernética como uma nova religião. P.53 Uma verdadeira amizade deve expor cada pessoa à estranheza inesperada do outro. Cada conhecido é um alienígena, um poço de diferenças inexploradas na experiência da vida que não pode ser imaginada ou acessada de nenhuma forma além da autêntica interação. A ideia de amizade em redes de relacionamentos sociais filtrados por bancos de dados sem dúvida é reduzida. P.78-79