O INDISPENSÁVEL TRAVESSÃO

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Sinais de Pontuação

"Dos sinais de pontuação, o travessão é uma dos mais requisitados atualmente, pelo fato de proporcionar mais clareza do que as vírgulas nas intercalações longas e maior ênfase nos destaques." (M. T. Piacentini¹)

O TRAVESSÃO [—] É UM TRAÇO MAIOR QUE O HÍFEN E USA-SE:

1. Para, nos diálogos, indicar o início da fala de um personagem. Se houver a intervenção esclarecedora do narrador, repete-se antes dos verbos dicendi (dizer, perguntar, responder e seus equivalentes) e ao terminar a intervenção, se a fala prossegue.  Neste caso, no interior da frase, pode ser substituído pela vírgula. Porém, o travessão, simples ou repetido, tem a vantagem de distinguir mais claramente os comentários do narrador das falas das personagens:

— Você é daqui mesmo? — perguntei.

— Sou sim senhor — respondeu o garoto. (Aníbal Machado)

— Talvez o mais certo — concluiu Tibério, pensando na sabedoria dum ditado gaúcho — seria apostar no “cavalo do comissário”, que nunca perde carreira. (E. Veríssimo)

— Me agradei do doutor — continuava o masseiro. — Tão camarada, tão delicado. (José Lins do Rego, O Moleque Ricardo)

2. Para, nos diálogos, indicar a mudança de interlocutor:

Um dia o telefone de sua casa tilintou, e ele pegou o fone, já irritado, como sempre, pois não se havia habituado ainda àquela engenhoca, pela qual tinha uma má vontade atávica.

— Pronto! — gritou como quem espera ouvir e dizer desaforos.

— É o Coronel Tibério? — perguntou uma voz malíflua de mulher.

— Quem deseja falar com ele?

— É a Venusta. (E. Veríssimo)

3. Para, no período, intercalar, isolar uma expressão explicativa, apositiva ou destacar alguns termos da oração, equivalendo, conforme o caso, ao mesmo papel da vírgula ou parênteses. Neste caso, quando coincidir com o fim do período, o travessão não se repete:

    Uma das glórias — e tantas são elas! – da nossa Literatura, é Gonçalves Dias.

    Aceitaram tudo — e começo minha tortura.

    O governador de Goiás — o Estado mais afetado pela medida — recusou-se a falar à imprensa.

    [...] uma bela festa que me encheu de orgulho e saudades — principalmente de saudades. (M. de Assis)

    Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda , triste e constante... (M. de Assis)

4. Para Substituir os dois-pontos:

    Eram assim seus dias – muito trabalho, pouco descanso.

    Eis o autor das denúncias – o próprio ministro.

5. Para, no período, introduzir uma pausa mais forte ou destacar a parte final de um enunciado:

    Vi luta de bravos / Vi fortes - escravos! (G. Dias, I Juca-Pirama)

    Estava estudando a vida de Átila — ele mesmo, o rei dos hunos.

    O cineasta atacou a platéia de “intelectuais adultos" — suposta nata da crítica mundial.

6. Para Ligar palavras ou grupos distintos de palavras em cadeia de um itinerário, indicar enlace de vocábulos, mas sem formar palavras compostas. Isto é, palavras que não formam um terceiro significado, por não existir um conjunto semântico, como nas palavras compostas, mas apenas encadeamentos (neste caso não se emprega o hífen, mas o travessão): A estrada Belém—Brasília. / O sistema Anchieta—Imigrantes.

    O Relacionamento Governo—Congresso.

    O ciclo vigília—sono.

5. Para separar as datas de nascimento e morte de uma pessoa:

    São Paulo, 1905 – Rio de Janeiro, 1960.

6. Particularidades:

1ª.  A vírgula que se colocaria antes do termo que precede o primeiro travessão transfere-se para depois do segundo ou se o segundo travessão coincidir com uma vírgula, usa-se os dois sinais:

    Martin Francisco, já abraçando os amigos — pois se anunciava pelo alto-falante a partida do ônibus —, disse: [...]

    Essa mensagem do jornal, publicada na edição de novembro – especial, com 20 páginas –, já indicava a disposição...

    Depois de ter quitado 24 prestações, de um total de 50 – a última foi de R$ 589,20 –, o mutuário tentou transferir...

2ª. Sinais como o ponto de interrogação, de exclamação e as reticências, pertencentes ao enunciado entre travessões, ficam antes do segundo:

• Um observador — e não precisa ser muito arguto! — notaria nas faces da maioria dos convivas uma curiosa mescla de alegria forçada [...].

3ª. Jamais coloque mais de dois travessões no mesmo período, para não confundir o leitor:

    Essa prática – que privilegia o filho mais velho – é muito antiga e a Bíblia dá um exemplo – o de Esaú e Jacó – em que o primeiro vendeu o direito de primogenitura – e por um prato de lentilhas.

4ª. Não recorra ao travessão e sim à vírgula, para isolar os verbos de uma declaração: Todos nós, prosseguiu, temos consciência dos problemas do País.

    Com essa medida, garantiu o presidente, seria possível apressar a votação. ®Sérgio.

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¹ - Maria Tereza de Queiroz Piacentini, é diretora do Instituto Euclides da Cunha.

Ajudaram na elaboração deste texto: Eduardo Martins, Manual de Redação e Estilo. / Domingos Paschoal Cegalla, Novíssima Gramática da Língua Portuguesa; Editora Nacional, 2005.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.

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