DE SEGUNDA A SEXTA



         Em Portugal não se ensina crase. Afora os estudiosos do idioma, o termo é até desconhecido por aquelas terras. Para os lusitanos, o que denominamos acento indicativo de crase é simplesmente o acento gráfico obrigatório nos monossílabos tônicos com base a, e e o. Porque lá a fusão da preposição a com o artigo a é pronunciada de forma diferente do a em outras situações. Lá se diz “â mãe e â filha foram à praia”, onde o a resultante da crase é pronunciado aberto, ficando os demais fechados (â). Por essa razão, é comum encontrarmos, em textos de além-mar, a grafia á em vez de à. Mas ninguém põe acento de mais nem de menos.
         No Brasil, ao contrário, sobejam exemplos de acento indicativo de crase que não existe. Isso ocorre, primeiro, por não dispormos da diferenciação fonética; segundo, por falta de raciocínio; terceiro, por comodismo: um erra, o outro copia o erro. E vão enchendo cartazes, faixas e placas com erros do tipo *à 200 metros, *à partir, *de 20 à 50 % de desconto etc.
        No rol dos erros, é campeã, sem dúvida, a expressão *de segunda à sexta.
        Por quê?
       Porque o falante tem aí a clara noção de que se trata de uma preposição, e, unindo sua intuição ao emaranhado de regrinhas ensinadas por  pessoas que não dominam o assunto, faz como José de Alencar, que chegou a propor se acentuasse sempre a preposição a.
        Um simples raciocínio, no entanto, mostra que aí não ocorre crase. Basta fazermos a comparação com a estrutura da expressão “de segunda a sábado”. Ninguém diz *de segunda ao sábado, onde ao representaria a preposição mais o artigo.
        Escreva, portanto, “de segunda a sexta”, sem acento.

Loro Martins
Enviado por Loro Martins em 23/12/2011
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T3403198
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.