No mundo dos ditongos : lição para crianças

Nosso artigo tem esse título aí meio pretensioso. Não será um exagero falar em um mundo dos ditongos? Certamente que sim... Mas o que queremos é realçar, é deixar claro que os ditongos têm lá a sua utilidade, o seu mundo, o seu mundinho... Vamos ver?

O que são os ditongos? São encontros vocálicos. Se entendemos que esses encontros se realizam numa única sílaba, as coisas já ficam mais simples. Assim, em pAI, mAU, AU-la, rEI-na-do, cÉU, bOI-a-da e ca-sEI-ro, salientamos ditongos.

Até aí, nenhum problema, certo? Ocorre, porém, que vocês podem estar querendo saber a utilidade de conhecer um ditongo.

Afinal aprendemos coisas que nos tenham valia, não é assim? Se aprendo os números e as contas, sei que vou poder ir ao supermercado, fazer compras, pagar e conferir o troco.

Se aprendo que o sol nasce a Leste, aprendo a me orientar e sei perfeitamente onde estou. Não é assim? Pois bem, o que se faz com os ditongos? Uma primeira utilidade deles certamente é separar as sílabas das palavras, e, assim, quando vocês estiverem escrevendo, terão mais facilidade no momento de passar de uma linha para outra, pois os elementos dos ditongos não se separam. Não deixa de ser alguma serventia, não acham?

Vocês poderiam me dizer que é pouca utilidade para essa ferramenta, até porque quem já usa o computador sabe que o editor de textos prepara tudo direitinho para que não se separem as sílabas. E aí, pra que então conhecer um ditongo? Para separar sílabas, como disse, e vocês, como estudantes ou profissionais, poderão apresentar textos escritos a mão e, portanto, terão de partir sílabas.

Pra quem acha muito pouco (e eu também acho!), vamos relacionar ditongo com escrita. Já repararam que depois de ditongo o som de "xê" se grafa com "x"? Vejam que, em palavras como cai-xa, fai-xa, fei-xe, amei-xa e dei-xar, o "x" se encontra depois de um ditongo.

É pena que quando o carro estraga o pneu, eles tenham de ser recAUchutados... Vocês, também, costumam usar tinta gUA-che em seus trabalhos escolares... Recauchutar e gauche são essas pedras em nosso caminho...

Mas tem mais... Reparem que coi-sa, pau-sa, deu-sa, Sou-sa, e Neu-sa se escrevem com s. Vale dizer que depois de ditongo o som de "zê" se escreve com "s". É bem útil, não?

Não desistam, tem mais alguma coisa... Observem que coi-ce, foi-ce, fei-ção e elei-ção se escrevem desse jeito porque o som de "cê" é grafado com c ou ç depois de ditongo...

Como viram, até que tem alguma utilidade conhecer os ditongos na língua portuguesa. Quero repetir que vocês não precisam ficar decorando essas regras.

Aprendam o que for possível e apliquem, quando necessário. Não podem mesmo é se descuidar da leitura... É assim que ficarão mais criativos, mais perceptivos e enxergarão o mundo de uma maneira muito particular.

Aí, lá no meio da leitura, é até possível que vocês parem e vejam alguns ditongos e como eles são responsáveis pelo uso do x, do s, do c e do ç.

O autor dessas linhas não é nenhum poeta (escreve de vez em quando algumas quadrinhas imperfeitas!); pensando em vocês que vão ler essas anotações escreveu uma singela poesia sobre o ditongo e seu uso.

Aliás, vocês devem sempre exercitar as rimas, as combinações sonoras. Quem sabe não existe um poeta dentro de vocês! Para finalizar, então, nosso artigo, vamos ao nosso "Poeminha do ditongo", que preparei para vocês. Espero que não desgostem!

De que serve esse ditongo

Que aprendo na escola?

Perdoe se me alongo

Mas com ele grafo caixola.

De que serve esse ditongo

Que aprendi com aquela moça?

Perdoe se me alongo

Mas com ele escrevo louça.

De que serve esse ditongo

Que aprendi com a Jurema?

Perdoe se me alongo

Mas já escrevo maisena.

De que serve esse ditongo

Que aprendo dia a dia

Perdoe se me alongo

Mas tem muita serventia...

(Publicado originalmente na Folha da Região, de Araçatuba, em 10 de janeiro de 2007, na coluna de responsabilidade do professor Hélio Consolaro)