POR QUE


          Muitas décadas atrás, na escola primária, ensinaram-me que se grafava por que (em duas palavras) quando se tratava de pergunta, ficando o outro porque (numa só palavra) reservado às respostas.
         Pergunta e resposta. Tal era a regrinha, simples; porém incompleta.
         Veja-se este exemplo:
         [1] Por que você está triste? Porque o carnaval acabou?
         Há aqui, claramente, duas interrogações. Qual é, então, a razão das duas grafias?
         A explicação é que, na segunda oração, a pergunta não se refere ao fim do carnaval especificamente; e sim, ainda, à tristeza da pessoa a quem é dirigida a indagação. É como se se dissesse:
         [2] A razão dessa tristeza é o fim do carnaval?
         Juntando as duas orações, tem-se:
         [3] Você está triste porque o carnaval acabou?
         E não *Você está triste por que o carnaval acabou?, como seria alguém levado a escrever, caso tivesse em mente a regrinha simples e incompleta que continuam a ensinar por aí.
         A resposta à pergunta [3] poderia ser:
         [4] É, sim. Estou triste porque o carnaval acabou
         ou
         [5] Não. O motivo da minha tristeza é outro.
         Há duas maneiras de saber quando empregar  por que em orações que não finalizem com o ponto de interrogação:
         (A) Transpondo (mentalmente) a oração para o registro popular:
         [6] Não entendo por que que /purkê ki/ isso aconteceu.
         [7] Não entendo por que é (ou por que foi) que isso aconteceu.
         Na linguagem culta, retire-se o complemento de reforço (que, é, foi). E escreva-se:
         [8] Não entendo por que isso aconteceu.
         (B) Acrescentando a palavra razão  ou motivo:
         [9] Não entendo por que razão isso aconteceu.
         Vi, recentemente, um livro no site da Bookess com o título Porque e como parar de fumar. Muito interessante. Como se trata de edição digital, facilmente corrigível, chamei a atenção do autor, que, como eu já esperava, não acreditou em minhas razões. Por quê? Porque, assim como a maioria das pessoas, aprendeu de forma errada (melhor dizendo, de forma incompleta). O título do referido livro deveria ser:
         [10] Por que e como parar de fumar.
         Outros exemplos:
         [11] Kubitschek, Juscelino. Por que construí Brasília. Brasília : Senado Federal, 2000.
         [12] Por que o Vostok não congela. (Revista Veja, 15 fev. 2012, p. 87.)
         [13] O Ministério da Justiça quer saber por que as revelações da advogada que a máfia infiltrou no governo nunca foram incluídas nos inquéritos que investigam a corrupção no DF. (Revista Veja, 22 fev. 2012, p. 55.)
         [14] Nossa Política de Privacidade explica quais informações coletamos e por que as coletamos.  (Google. Política de Privacidade.)
         Como se pode ver, é uma simples questão de raciocínio. Para quem sabe inglês ou francês, o nosso por que (em duas palavras) corresponde SEMPRE a why, em inglês, e a pourquoi, em francês.
         [15] Não sei por que vocês não me entendem. I don’t know why you don’t understand me. Je ne sais pas pourquoi vous ne me comprenez pas.