Estudando a nossa querida Gramática, conheceremos a Estilística, que pode, em pouquíssimas palavras, ser considerada a arte de bem escrever.
Interessa demais à Estilística analisar as figuras de linguagem, que, num texto, tornam a mensagem transmitida mais expressiva.
 
Certamente uma das figuras de linguagem mais fascinantes é a onomatopéia a qual podemos definir dizendo que ela imita, através de palavras, o som natural das coisas.
 
Quando nós escrevemos atchim, imitamos o som do espirro. Buá, buá imita o choro de uma criança e piu, piu consegue imitar o canto de um passarinho.
As palavras “atchim”, “buá, buá” e “piu, piu” são, portanto, exemplos de onomatopéias.
 
Certa vez eu escutei uma história que ilustra, de forma muito divertida, as onomatopéias referentes às vozes dos animais.
 
“Um ladrão estudioso descobriu que Urtigão guardava, no seu casarão, vários diamantes.
O ladrão decidiu encarar o desafio de roubar Urtigão, porém ele não ignorava os obstáculos da missão.
Cercando o casarão de Urtigão, havia uma imensa floresta habitada por todos os animais do planeta. Era possível, então, encontrar formigas, abelhas e vários insetos, no entanto também moravam na floresta búfalos, tigres, zebras e leões.
Urtigão convivia harmoniosamente com os queridos animais e conversava numa boa com cada um sem qualquer preferência ou preconceito.
Os animais e Urtigão desenvolviam uma amizade bonita.
O famoso caipira das revistas em quadrinhos conhecia as vozes dos animais com perfeição, ou seja, ele dominava as onomatopéias dos animais.
Urtigão costumava permanecer o tempo todo sentado, na frente do casarão (que só possuía uma entrada), segurando uma grande espingarda.
Cochilando, procurando evitar o sono pesado, ele sempre despertava para cumprimentar um animal que aparecia fazendo barulho.
 
O ladrão passou dez dias treinando as vozes dos animais e, após esse período, resolveu executar a tarefa criminosa no início da madrugada.
O ladrão precisava esperar Urtigão dormir firme, entrar no casarão sem ser notado, pegar os diamantes e sair imediatamente.
Para confirmar o momento de agir, bastava imitar algum animal. Caso Urtigão seguisse dormindo, esse era o instante do ladrão atacar.
O plano parecia perfeito.
 
Escondido, atrás de uma árvore, o ladrão percebeu um galo alegre fazendo “cocoricó!”.
Urtigão despertou rápido e falou:
_ Olá, seu galo, está sem sono?
O galo respondeu:
_ Cocoricó!
Depois sumiu, pois ainda faltava um certo tempo para ele realizar o seu tradicional canto saudando a nova manhã.
 
O ladrão, após ficar quieto durante uma hora, resolveu testar se o sono de Urtigão estava pesado ou não.
_ Muuu! Muuu!
Urtigão respondeu sem demora:
_ Oi, seu boi, como vai a madrugada, amigo?
O ladrão, constatando que Urtigão seguia ligado, repetiu chateado:
_ Muuu! Muuu!
O ladrão esperou mais duas horas.
Cerca de três horas da madruga, escutando Urtigão roncando alto, o ladrão decidiu simular o sibilar de uma cobra.
_ shssssssssssssssssssssssss!
Urtigão despertou e disse:
_ Tudo tranqüilo, amiga cobra?
Mais uma vez o falso animal devolveu o cumprimento.
_ shssssssssssssssssssssssss!
O ladrão frustrado resolveu dormir até de manhã.
 
Brilhando os primeiros raios solares, o ladrão acordou ouvindo o galo cantar empolgado.
_ Seu galo, agora você está cantando no horário certo - falou Urtigão, observador e com a audição acesa.
A claridade facilitava a visão do caipira armado, portanto o ladrão preferiu aguardar a presença de algum animal.
Não ficava bem simular a voz e não ter o animal perto para confirmar a farsa.
Urtigão voltou a cochilar.
 
Trinta minutos depois surgiu um peru calado dando uma volta.
O ladrão aproveitou para testar a força do sono de Urtigão:
_ Glu, glu! Glu, glu!
Urtigão rápido abriu os olhos:
_ Bom dia, seu peru! Por que a pressa?
O peru sumiu no meio da mata sem dizer nada e querendo saber curioso onde estava o outro peru falante.
Dessa vez o ladrão optou por não devolver o cumprimento, pois existia o risco de Urtigão desconfiar.
 
Duas horas após, o ladrão já revelava um enorme cansaço.
Ficar mais de sete horas atrás da árvore esperando Urtigão adormecer pesado não estava nada fácil.
Urtigão seguia cochilando, porém saber a intensidade do sono era uma grande incógnita.
 
De repente apareceu um papagaio passeando, sem dar um pio.
O ladrão considerou ótima a oportunidade de verificar o quanto Urtigão estava adormecido.
_ Currupaco! Loirinho, dá a perna!
Não demorou um minuto, uma bala foi disparada na árvore.
Igual a uma flecha, Urtigão surgiu apontando a arma para o ladrão assustado e surpreso.
O pagagaio veloz já havia desaparecido temeroso e silencioso.
 
Na delegacia Urtigão explicou que dorme um sono leve exatamente para não facilitar a vida dos ladrões interessados nos seus diamantes.
Ele esclareceu que foi fácil descobrir a presença do invasor.
Os papagaios não falam coisa alguma espontânea, eles apenas imitam as vozes dos donos.
Um papagaio criado na floresta jamais diria “Currupaco! Loirinho, dá a perna!”.
Além de não ter ninguém para ensinar tais palavras, essa frase é idiota demais.
A voz natural de um papagaio, o valente caipira continuou elucidando, é o “palrar” (heeeeeeehan!).
O ladrão admitiu que, realizando o seu treinamento rápido, esqueceu de pesquisar como imitar o palrar dos simpáticos loirinhos.
Urtigão retornou ao casarão querendo cochilar mais um pouco.
O ladrão passou a dormir sossegado no xadrez.”
 
Espero que a narrativa acima facilite o aprendizado sobre as deslumbrantes onomatopéias!
 
Sobre a história, claro que ela não é uma fábula.
O breve conto apresentou animais, porém nenhum deles pode ser confundido com um ser humano.
Todos procederam como autênticos animais da vida real.
Apesar disso, eu decidi propor a seguinte lição de moral:
 
Quando o loirinho aparecer
É a vez de palrar
Você será burrinho se esquecer
Pois no xadrez vai parar
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 20/03/2013
Reeditado em 20/03/2013
Código do texto: T4197961
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