Poetisas, sim senhor! A poeta é só bolor.

Tenho lido com certa frequência pessoas escreverem "a poeta fulana de tal... ", "a poeta isso, a poeta aquilo...".

Por escrever esta palavra quero aqui fazer também um breve comentário. Sempre aprendi em toda minha vida de estudante e, foram muitos anos, acreditem, que poeta é um substantivo masculino cujo feminino é poetisa. Nunca ouvi dizer nem li em nenhuma das gramáticas nas quais estudei, que poeta era um substantivo comum de dois gêneros. Para quem não sabe, "comum de dois gêneros" é uma palavra que tem o masculino e o feminino idênticos como por exemplo, o artista, a artista; o colega, a colega; o dentista, a dentista. Poeta, por tudo que aprendi até hoje, não é nem nunca foi classificado como comum de dois gêneros!!!

Apesar disto, muitas pessoas ultimamente tem escrito textos onde utilizam esta palavra com esta classificação. No meu entendimento, erroneamente. Será que mudaram o português e não me avisaram?

 

Respondendo a um comentário de Roberto Machado Carvalho, que comentou sem logar no Recanto das Letras, resolvi acrescentar alguma coisa ao que já escrevera.

 

Não desconheço que Cecília Meireles em poema intitulado "Motivo"escreveu:

"Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta."

 

Este fato porém, apesar da relevância da poetisa, não modifica a língua pátria que ela sequer tinha o direito. Admiro muito os seus versos, sou fã dela incondicional mas, não dou a ela o direito, de ditar o que é correto, na linguagem regrar. Ela foi apenas uma escritora.

E continuo afirmando: a poeta não substitui a palavra poetisa. Considero inadequado seu emprego.

 

Mas não fico por aí. O caso de Cecília Meireles, analisando-se a fundo, não autoriza ninguém, a de sã consciência, dizer que, por causa deste poema, Cecília Meireles preferisse que a chamassem de poeta e não de poetisa. No poema mencionado acima, logo a seguir, ela afirma, com todas as letras, que NÃO ESTAVA SE AUTODENOMINANDO DE POETA.

 

Vejam com seus próprios ollhos sem precisar ir buscar o citado poema em algum outro lugar. Trago-o aqui para vocês não terem trabalho. Eis abaixo o poema completo.

 

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

 

No último verso da primeira estrofe, ela afirma: sou poeta.

Mas, logo a seguir, no verso seguinte, já na segunda estrofe, ela afirma: "Irmão das coisas fugidias"

Irmão? Ora! Será que ela estava reivindicando também para si, o substantivo irmão? No masculino?

 

Mas não fica só aí. Na última estrofe, no penúltimo verso, ela, por fim escreve: "E um dia sei que estarei mudo"

E será que ela mais uma vez está pleiteando para si o gênero masculino? Ela está se chamando de mudo?

 

Não! Claro que não. Muitas vezes, os poetas ou poetisas, utilizam uma coisa chamada "Eu lírico" para expressar, através de uma voz poética, uma fala na primeira pessoa, de um eu fictício, imaginário. Ou seja, ela está chamando de "POETA", "IRMÃO" e "MUDO", alguém que não existe, ou que só existe na cabeça dela.

 

Então, não se valham as poetisas, que querem reivindicar o direito de serem chamadas de poetas, mesmo sendo do sexo feminino, basenado-se no poema de Cecília Meireles, pois, ao fazerem isso, só se taxam de ignorantes. Atestam apenas, a falta de cultura e conhecimento. Pois, Cecília Meireles NUNCA SE AUTODENOMINOU DE POETA!!!

Alberto Valença Lima
Enviado por Alberto Valença Lima em 17/02/2014
Reeditado em 05/04/2024
Código do texto: T4694404
Classificação de conteúdo: seguro