Sabias...

Tu sabias, porque Eu não sabia, que existe a espécie sábias palavras na literatura ornitológica, mas sempre é citada nos comentários das páginas dos sábios escritores do RL.

Certamente o leitor conhece rapadura, a complexa sacorose da cana de açúcar que não passou por refino; o qual é feito através de soda cáustica. Não sinta-se surpreso, mas ao ingerir açúcar, você leva de brinde para o interior do organismo um mínimo, um quase nada, torrãozinho nada cortante de vísceras, de soda cáustica. Fique em paz, continue consumindo açúcar na boa, pois, oriundo dos períodos pós-guerra, todo alimento processado tem alguma química.

Aliás, pense no lado bom das guerras; e se tens em mãos um telefone celular, um carro na garagem, alimento em abundância, tudo isso deve favor as guerras. Ademais, senão fosse as guerras, a matança por falta de alimento seria maior, gigantescamente maior que a pandemia do Coronavírus.

Por favor, antes de execracar-me, lançando-me nas caldeiras ferventes do inferno das palavras praguejadas, os parágrafos descritos são objetos de estudo e pesquisa da ciência química e econômica, transposta em conceitos e abordagens para os anais da história mundial. Portanto, são fatos.

Seguindo pelo fantasioso, empático e amistoso lado"B", porque o "A" são verdades e realidades lançadas debaixo do tapete, até por quem se intitula douto no assunto e tema, viajando sobre duas rodas de uma magrela, aportei-me numa cidadizinha pequena, daquelas de sentimento único, que é um pela maioria; e a maioria, por um. Duvidas, mas isso ainda existe e já passei por vários acolhimentos, que comprovam o que escrevo.

De bate-pronto, um fulano magro, esguio e sorriso largo veio ao meu encontro. Apresentou-se, perguntando, de onde vinha e para aonde ía. Como palavras sensatas e gentis, geram palavras sensatas e gentis, respondi em igual teor. Ficamos por um tempo papeando, e ápice da conversa girava em torno de bicicleta, dos suores que ela nos proporcionava, tanto quanto o prazer de sermos transportados para o infinito. Unidos pela magrela, a única diferença é que Eu dou mais ênfase em viajar de bike, enquanto Ele surra-a, e é surrado por ela, nas competições.

Modalidade de esporte ciclístico que nunca me propus, afinal, para mim, a batalha diária pela sobrevivência, é uma árdua, difícil e dolorosa competição; e quem saiu do nada e ganhou o topo do pináculo, sabe o que digo.

Paulatinamente, ouvi dEle se estava tudo bem; se não, que ficasse à vontade que Ele auxiliaria-me. E por quantas vezes Ele perguntou, Eu respondi que estava tudo bem, que a viagem transcorria sob o planejado; e que em breve estaria no destino. Logicamente, completava a resposta, que sob a proteção e os mandos de Deus, chegaria em paz.

Ele indicou-me a saída para a rodovia. Nos despedimos, desejando um ao outro, sorte, saúde, cuidado e que, competindo ou viajando, que fôssemos guiados e protegidos por Deus, sempre.

Terminei de tomar o café. Deixei um até breve para os demais que estavam na lanchonete, dobrei o corpo sobre a magrela, ajeitei a bunda sobre o selim e os pés sobre os pedais, e força física, por que a tenho?

Pedalei uns 700m, quando vi alguém gesticulando. Quem poderia ser? Era o companheiro de esporte, esperando-me na calçada em frente a sua casa, com um pedaço de rapadura embrulhado em um saco plástico.

Parei. Olhamo-nos vistas nas vistas. Ele abriu um sorriso sincero e disse: "leve isso, no momento que bater a fome e a glicose abaixar, será a salvação".

Não titubeei em pegar o nobre presente. Agradeci, ratifiquei o desejo de boa, pacífica e harmoniosa competição, porque Eu seguiria a minha.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 23/05/2021
Reeditado em 28/05/2021
Código do texto: T7262120
Classificação de conteúdo: seguro