CRASE 

A palavra crase vem do grego krasis e significa fusão, junção. Em língua portuguesa, é a fusão ou contração  de duas vogais idênticas em uma só.  É  um processo fonológico. Graficamente, representa-se pelo acento grave. 

Iremos à praia.
Iremos a+a praia.
 
Na frase acima, ocorreu o seguinte: o primeiro a é uma preposição exigida peço verbo ir, o segundo a é um artigo, exigido pelo substantivo praia. Em geral, ocorre crase, quando uma palavra (verbo, substantivo, adjetivo...) que pede a preposição a, for seguida por um substantivo que requer o artigo a(s). Logo,
 
Só há crase diante de substantivos ou expressões femininos. Em se tratando de expressões, mesmo que elas estejam ocultas.
 
A crase também acontece com o a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. Outras vogais idênticas são também contraídas, visto ser a crase um processo fonológico.
 
Ana referiu-se àquele moço de camiseta azul.
Ana referiu-se a+aquele moço de camiseta azul.
 
Neste caso, a crase ocorreu com o pronome aquele e nada tem a ver com o substantivo masculino senhor, que está depois.
 
Regrinha prática
Substituir a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se aparecer ao ou aos diante de palavras masculinas, é porque ocorre a crase.

Tenho amor à arte.
Tenho amor ao cinema.
 
Algumas observações que se fazem necessárias.
 
I - Não se usa acento indicativo de crase nos casos abaixo relacionados.

1)Antes de palavra masculina.
O julgamento do caso fica a teu critério.
 
2)Antes de verbo.
O soldado foi obrigado a abandonar o posto.
 
3)Antes de pronome de tratamento, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos.
Em anexo, remeto a V. Sa. o relatório da reunião do dia 15 de julho.
Dei a ela todos os documentos solicitados.
Concedemos a esta secretária o título de Melhor Redatora do Ano.
 
Não vale para os pronomes senhora, senhorita e dona.
Dirijo-me à senhora
 
4)Com expressões formadas por dois substantivos que se repetem
Os inimigos ficaram cara a cara.
 
5)Quando o a  estiver no singular e a expressão feminina seguinte, no plural.
Refiro-me a pessoas que já viajaram aos Estados Unidos.
 
6) Depois de preposição
Ela compareceu perante a juíza.
 
II Casos de emprego facultativo de uso de acento indicativo de crase.

Em dois casos, o uso do acento que indica a ocorrência do processo fonológico é facultativo, isto é, usamo-lo se queremos, porque também é facultativo o uso do artigo:
 
1)Antes de nomes próprios femininos
Entreguei as compras à Luciana. Ou 
Entreguei as compras a Juliana.
Podemos escrever: A Luciana recebeu as compras. Ou Luciana recebeu as compras.
 
2)Antes de pronome possessivo no singular
Dei o presente à minha mãe. Ou Dei o presente a minha mãe.

Há um terceiro caso de uso facultativo de acento indicativo de crase: 

Antes da preposição até, porque ela pode vir ou não seguida da preposição a. Se dispensarmos a preposição a, não haverá crase.

Ele foi até a cascata.
 
III - Crase e nomes femininos que indicam lugar.

Fomos à Bahia. 
Para sabermos, se houve ou não crase, basta substituirmos o verbo ir pelo verbo voltar, se resultar a combinação da, usa-se o acento. Se obtivermos simplesmente a preposição de, não se usa crase.
Voltamos da Bahia.
 
Fomos a Roma.
Voltamos de Roma.
 
Entretanto, quando o nome de lugar estiver determinado, admite artigo, portanto há crase.
 
Fomos à Roma dos papas.
Voltamos da Roma dos papas.
 
Para gravar isso, é bom decorar este versinho:
Quem vai à e volta da, crase há.
Quem vai a e volta de, crase por quê?
 
IV - Usa-se acento indicativo de crase:
 
1)Em locuções femininas [prepositivas, conjuntivas, adverbiais (exceto as que indicam instrumento)].
O carro dobrou à esquerda.
Os turistas ficaram à beira da estrada.
À medida que crescemos, entendemos melhor o mundo.
 
Observemos os seguintes exemplos:
1) Ela usa sapatos à Luís XV.
Usamos acento indicativo de crase porque a locução prepositiva à moda de está oculta. A frase é a seguinte:
Ela usa sapatos à moda de Luís XV.
 
2) Eles foram de passar de barco a vela
Não se usa acento, porque a expressão a vela é locução adverbial de instrumento.
 
2) Na indicação do número de horas, desde que, se trocando este número por meio-dia, obtenha-se ao meio-dia:
Chegou à uma hora em ponto.
(Chegou ao meio-dia em ponto).
Saí às quatro horas.
(Saí ao meio-dia).
 
Mas,
Estou aqui desde as sete horas.
(Estou aqui desde o meio-dia).
 
Ainda há outras regras mais específicas, mas que não são de muito emprego, por isso não as incluímos neste estudo.
 
Referências
 
BECHARA,Evanildo. Moderna Gramática portuguesa. 37 ed. (rev. e aum.). Rio de Ja
neiro: Lucerna, 2003.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
Emprego da crase. Dispon´pivel em: <http://www2.uol.com.br/michaelis/crase.htm> Acesso em: 9 nov.2007.
Gramática OnLine. Disponível em:<http://www.algosobre.com.br/gramatica/crase.html> Acesso em: 9 nov. 2007.
Crase. Disponível em: <http://fubica.lsd.ufcg.edu.br/wiki/doku.php?id=crase> Acesso em: 9 nov. 2007.