A República da Mesóclise

A República da Mesóclise

Dir-se-á do presente texto: por que iniciá-lo com esta forma

estranha ao atual português escrito?

É apenas um mote, uma introdução sobre a colocação dos

pronomes átonos: antes do verbo? Depois do verbo? No meio do

verbo?

Vou pedir um café. Dar-me-á o café? E se eu pedir:

“-Dê-me um café, por favor.” Gramaticalmente está correto,

mas não soará pedante? Melhor pedir:

“-Me dê um café por favor.” Melhorou, mas ainda não está

bom.

“-Me dá um café, por favor.” Agora sim, está adequado aos

ares paulistanos.

Aprendi na escola que o pronome átono pode vir antes do verbo

– próclise -, depois do verbo - ênclise. Até aí tudo bem, mas e a tal da mesóclise?

Bom aluno que sou, consulto o dicionário. Meso vem do grego -

mésos – colocado no meio. E no italiano - mezzo – meio, metade.

Deu até vontade de pedir uma pizza mezzo calabresa, mezzo

muçarela. Vejam que escolhi escrever a forma mozzarella conforme sugere o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

Segundo o professor Cláudio Moreno, a mesóclise é uma

espécie de ênclise, e concordo com ele. Conforme aprendemos, a mesóclise é a colocação do pronome átono no meio do verbo, porém se analisarmos a criação do futuro do presente e futuro do pretérito do indicativo, perceberemos a tese do professor Moreno.

O verbo haver é um verbo auxiliar por excelência, pois ele dá

suporte a outros verbos. No início do texto escrevi: Dir-se-á. Se eu utilizar o verbo auxiliar haver, ficará: haverá se dizer ou haverá de se dizer para exprimir que alguém dirá alguma coisa. Perceberam a economia quando se usa a mesóclise?

Entretanto, não há com que se preocupar. (Olhem a ênclise

aí!) A mesóclise, este dinossauro da língua portuguesa, fica restrito apenas às escritas extremamente formais. No popular, vamos de: alguém dirá ou alguém vai dizer.

#bispoeta