Sala de Espera - Haibun

No centro da cidade, que se encontra sob a chuva, aguardo uma revisão médica.

A plantonista encarregada do atendimento está atrasada, mas ninguém dos presentes da fila de espera reclama - uns dedos de conversa com o vizinho de poltrona ou um vídeo do WhatsApp, e o tempo vai passando.

Mas, ao cabo de mais de hora e meia de espera me enfado e começo a zanzar pela sala e, depois, pela calçada do prédio.

Ali, estendo os olhos pelo horizonte e então me deparo com a torre art deco da basílica da cidade, que se avulta atrás do prédio da farmácia da esquina, em cuja lateral se nota um vistoso "24 horas" sobre um fundo vermelho. É inevitável, a correlação.

56. Naquela altura em que algumas coisas mudam, outras se se calcificam, os amores se firmam em esplendor e hachuras e velhos amigos começam a partir de supetão.

Mas, depois que fotografo a cena e vejo examino o resultado - aquela composição de formas cuja beleza que se estabelece e vale por si, percebo outra vez como certas coisas já estão sem lugar, entre minhas preocupações.

E então, a atendente me interrompe nas divagações, me chamando da porta, informando que o atendimento começou e já é a minha vez.

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pousados nos fios

os pombos nem se movem

sob a chuva fina