Haikais XXXII

Borboleta bebe

Gotinha de néctar

No cálice da flor

No ardil da teia

A engenhosa aranha

Nutre-se da presa

Casal Bem-te-vi

No ombro da árvore

Faz passarinho

Entre árvores

O camaleão brinca

Camuflando-se

Flerte no jardim

Beija-flor seduz a rosa

Paira, voa, baila...

Morte na floresta

Rubras línguas de fogo

Alastram pela terra

Na proa da folha

Formigas de carona

Navegam o rio

Vento arisco

Açoita o músculo

Na manhã fria

Rota intrigante

Virando-se para o sol

Brilha o girassol

Veias de fogo

Vão riscando as nuvens

Clareando o breu

Perto do ouvido

Extrai-se a música

Da concha do mar

Na queda d'água

Cachoeira desenha

O véu da noiva

Dia nublado

À espreita, o sol aguarda

A vez de brilhar

Capim se curva

Sob hálito espesso

Do frio inverno

Riacho oscila,

Tingido de dourado,

À luz do meio-dia!

Gotas de chuva

Refletem a luz do sol

No arco-íris

À luz da fogueira

Silhuetas de flores

Brincam no muro

Raios e trovões

Brame a tempestade

Sacode o sono

Sol desabrocha

Na varanda a vida

Deita na rede

Mar agitado

Veleiro sem bússola

Vida à deriva