SÓ PENSO EM HAIKAIS

Na quase manhã

há algazarra de pássaros

em revoadas

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A rosa acorda

bebe o sereno da noite

se abre úmida

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cada olhar é único

a vida não se repete

o olhar a completa

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A gota de água

no fio de arame hesita

baila na luz

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A arte de morrer

a gota d’ água sabe

vive sem apegos

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Chegada a velhice

vão-se os prazeres

fica o condor

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Diz Martín Fierro

que o diabo é perigoso

por estar velho

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A chuva canta

na vidraça da janela

lágrimas nos olhos

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Por um instante

acaricia meus cabelos

uma brisa morna

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Fico cismando

de repente desperto

no cotidiano

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Todo o velhaco

com gesto descuidado

se revela

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O terrorismo

de Bush ou Binladen

qual deles é pior?

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Toda a guerra

carrega nos braços

sangue inocente

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Senti saudades

Por toda a minha vida

de quê nem sei

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Apenas o vento

diz que vi outros mares

ele sempre mente

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Sou pássaro

migratório de regresso

ao ninho antigo

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Bem no fundo

da gaveta das coisas velhas

o gosto de teus beijos

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Lábios róseos

minha canção de espera

com teu perfume

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O tempo derrama

na luz do crepúsculo

muitos olhares

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Vento minuano

varre o frio da tarde

ao sol poente

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Um vaga-lume

acende seu lume na noite

e faz poesia

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Será que a lua

incendeia os amantes

na madrugada?

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As flores abrem

à espera de abelhas

que as fecundem

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Sobre a idade

mentiu mentiste menti

sempre mentimos

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O meu abrigo

é uma canção de ninar

que a mãe cantou

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Habita em mim

um sonho antigo

de virar nuvem

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A poeira do tempo

carregou a luz de teu olhar

ficou eco de passos

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lugar perdido

nem mesmo em sonhos

podes visitar

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O chamego das aves

tece casas com gravetos

música dos ninhos

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Todas as certezas

são provisórias

o amor é eterno

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O que é o amor

quando vamos amor

por que se ama?

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Por que o vento

não varre para longe

as minhas tristezas?

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Onde andará

o menino cheio de sonhos

acaso morreu?

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 20/07/2006
Código do texto: T197750