NO HORTO *

Profana o morto
na sombra do jatobá
fêmea carcará


Silvia Regina Costa Lima
13 de agosto de 2014

* Horto:  s.m. Pequeno terreno onde são cultivadas plantas de jardim; horta.
Fig. Lugar de tormento (por alusão ao Horto das Oliveiras, onde Cristo foi preso).


Há certos animais tão repulsivos e tristes que mais parecem alguns seres humanos. Mesmo que sejam necessários na cadeia alimentar, como os grandes lixeiros da natureza vivendo de restos alheios, eles, os abutres, nos causam asco instintivo por serem capazes de molestar e se alimentar dos restos até mesmo de pessoas mortas - que não mais podem se defender deles aqui na Terra... Mas se eles  pudessem, os mortos, com certeza fugiriam da tamanha feiura que eles nos apresentam e de tudo que os carcarás representam.


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Um pouco mais sobre eles:


 "Caracara plancus, chamado popularmente de carancho, caracará, carcará ...  Carancho" vem do tupi ka'rãi: "arranhar, rasgar com as unhas.

O carcará é facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de ter uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que se assemelha à lâmina de um cutelo; sua face é avermelhada.  Em voo, assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível por duas manchas de cor clara, quase branca, na extremidade das asas.
O carcará não é uma águia e sim um parente muito distante dos falcões. Diferentemente destes, no entanto, não é um predador especializado e sim um generalista e um oportunista, alimentando-se de anfíbios, cobras, roedores e quaisquer outras presas fáceis; ataca as crias de diversos mamíferos (como os filhotes recém-nascidos de ovelhas, destruindo-lhes as famílias) .... também caça insetos, minhocas, caracóis, ovos de outros pássaros (acabando com toda a prole de um ninho), miriápodes, lagartos. Ele acompanha os urubus em busca de carniça e de animais mortos.
Passa muito tempo no chão, fuçando a terra em busca de carniças e de possíveis restos, sempre ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha. "


Quando observamos essas aves no céu, nós nos apavoramos, pois sabemos, imediatamente, que algo morreu e elas já estão de olho nas suas sobras.



Lembrando da antiga canção de João do Vale, que sabia das coisas:

Carcará
Lá no sertão

É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará

Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada

Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada

Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá

Carcará
Pega, mata e come

 
 
 
SILVIA REGINA COSTA LIMA
Enviado por SILVIA REGINA COSTA LIMA em 15/08/2014
Reeditado em 23/08/2014
Código do texto: T4924180
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