UMA MÃO NA MINHA...

Nem me lembro ao certo quando ele entrou em minha vida,

ou melhor, na verdade, fui eu quem entrei na vida dele,

assim, de xereta, num dia do mês de agosto, pouco antes do

seu aniversário... razão pela qual, já nos identificamos,

como dois bons, teimosos e persistentes “leoninos”...

Nas minhas primeiras lembranças,

sinto a mão dele na minha, levando-me para tomar guaraná,

passear pela pracinha e, é claro,

com direito a uma passadinha pela igreja,

onde, pela primeira vez,

soube o que era o sinal da cruz...

E na minha inocência de sei lá quantos anos,

com a mão direita presa na dele,

fiz com a mão esquerda mesmo,

o que lhe rendeu boas risadas

e a explicação simples de que era só soltar

a sua mão por um instante...

Mas acho que já adivinhava que não seria

um bom negócio soltar sua mão,

porque assim a vida poderia nos levar

pra longe um do outro, exatamente como o fez...

Era meu tio por aquisição:

cresceu com meu pai... viveu toda uma vida

de amizade com ele e minha mãe;

viu os dois se casarem, nosso nascimento,

primeira comunhão, casamento,

filhos, separações...

Quando sua mãe se foi – também minha avó

de coração – eu estava lá, segurando sua mão...

Quando meu avô se foi – seu pai de coração -

ele estava lá, segurando minha mão...

E num dia deste mês de janeiro,

alguém me disse que ele se foi...

e eu não estava lá pra segurar a mão dele...

pela primeira e última vez... eu não estava lá...

A vida não lhe deu filhos, e cedo distanciou-me

do meu pai... então resolvemos nos adotar...

Ele era meu porto seguro,

a voz que do outro lado da linha dava sonoras risadas

e dizia que me amava profundamente,

e que eu era a filha que gostaria de ter na vida...

Procurei ser mesmo esta filha,

mas falhei em muitos momentos nos quais

poderia ter estado mais perto e não o fiz...

Achamos sempre que um dia poderemos

refazer nossos caminhos, mas nem sempre

temos tempo pra isso...

No dia em que ele se foi,

uma luz iluminou meu quarto,

para mim em sonho...

Por isso sei que ele já brilha em outra dimensão,

e que continuará brilhando e iluminando meu

caminho.

E se eu fechar os olhos, sempre sentirei suas mãos

nas minhas... e verei aqueles olhos azuis profundos,

e ouvirei aquela risada gostosa...

Fique bem meu tio querido,

cuidado pra não falar demais por aí – duvido que consiga,rs

Vou sentir muita falta das nossas looooongas conversas,

do telefonema no aniversário e o abraço apertado do encontro

cheio de saudades...

Um dia ainda espero de novo este abraço.

O que me deixa mais leve é saber que sempre

lhe disse o quanto te amava...

Então você se foi sabendo disso!!!

Perdi um pai... ganhei mais um anjo!!!

Saudades sempre!!!

Cláudia