Eu matei Michael Jackson

Pode parecer absurdo, mas realmente me sinto culpado pela morte deste cara. Explico: Quando criança, cantava no coro da igreja. Mal, mas cantava. Então descobri que um negrinho, um pouco mais velho que eu cantava como os anjos que adornavam o altar e os quadros da casa de minha professora de catecismo. Desde então passei a odiá-lo

A partir desta descoberta veio a consciência de três pecados: o preconceito, a ira e a inveja.

Quando adolescente, eu não sabia dançar. Tropeçava em meus próprios pés e balançava como um armário num caminhão de mudanças. Eu via Michael andando na lua, flutuando em nuvens. E odiava-o e inveja ainda mais aquele negro pernóstico. Meu Deus! Eu queria-o morto!

Poucos anos depois, o negro com voz de anjos e passos de dança mágico começou a branquear, afinar as feições e alisar o cabelo.

Odiei-o profundamente, pois lá no canto da minha alma eu queria ser negro como ele, cantar como ele e dançar como ele.

A cada ano ele se tornava mais branco e minha inveja mais negra.

Este branquelo azedo queria ser o negro que Michael Jackson se negou a ser. Vitiligo o cacete!

Matei o branco que ocupou o corpo de meu ídolo negro, mas eles já eram inseparáveis. Matei Michael Jackson por puro despeito.

Como eu queria ser cantor, compositor, dançarino e principalmente, como eu queria ter um bom punhado de melaninas a mais...

30/07/2009