MAIS POESIA! ( A Antero de Quental)
MAIS LUZ!
Antero de Quental
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os sensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro sol, amigo dos heróis!
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MAIS POESIA!
Olho o céu de matizes vaporosos,
Vago na vaga de mares impassíveis,
Sonho, repouso, pousos aplausíveis,
Inspiro-me em sóis, raios esplendorosos.
Tempo... vento, vapores caudalosos,
Tento flores, odores indizíveis.
Cascatas beijando matas tão sensíveis,
Banho, chuva, rios do céu, amorosos.
Amo a vida, de luz impregnada
Mesmo que hajam sombras, dor, veneno
E a noite fria se faça calada.
Hei se ser hálito sem retrocesso.
Que Deus me conceda, mesmo morrendo:
Que meu último suspiro seja um verso.