ODE A FERNANDO PESSOA

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Homem dos mil rostos, rigorosamente delirante!...

Poeta revolucionário, resignado fatalista!...

Homem – deste e doutros mundos – oculto atrás de inúmeras máscaras!...

Poeta intemporal - de eterna genialidade dramática!...

Homem insatisfeito - um inadaptado às realidades humanas!...

Poeta modernista - em busca dos elos perdidos da vida!

Vivestes duas realidades distintas em obstinado desencanto!...

Adoptastes a língua portuguesa por melhor exprimir os teus sentimentos!...

Descortinastes as várias personalidades da tua Pessoa e, com elas, abristes uma nova janela para o Mundo:

- Fostes Alberto Caeiro, filósofo das coisas simples da vida, numa perspectiva espontânea e positivista, mas sem falsos materialismos;

- Fostes Álvaro de Campos, outro solitário, mas de grande impetuosidade e de emoções fortes e intransigentes;

- Fostes Ricardo Reis, o homem das odes tristes e resignadas e fostes muitas outras personalidades na tua imaginação prodigiosa, mas todas elas, seres sentidos, como se tivessem corpos e almas próprios.

Em vida conquistaste apenas efémeras vitórias!...

Mas, além de poeta, eras exímio actor e -, apesar do ar austero e de muita timidez - guardavas para ti um sorriso irónico para lançares a este Mundo de vãs glórias:

- Um sorriso dos desencontros provocados;

- Um sorriso dos sonhos desencantados;

- Um rir, apenas por rir, talvez para não chorar…

Ah, poeta impiedosamente lúcido - iluminado pela áurea da genialidade-

fracassaste na vida, dita racional, sendo dela um conformado subalterno…

Para ti, apenas fazia sentido a existência poética...

Os desejos materialistas faziam parte de um qualquer sonho mau – que outros desejaram – como se tudo não passasse de uma miragem patética.

Conquistaste a imortalidade simplesmente vendo, descobrindo verdades que se tentam – desde sempre – ocultar dos sentidos, mas quando toda a névoa se desvaneceu, fez-se Luz em ti, pois nada neste mundo e nesta vida, deve ter a ousadia de perturbar o destino do ser.

E assim desnudado o Homem...

... Nasceu um poeta para a Eternidade!

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(NOTA: Escrito em 04/7/2005 e publicado nesta data para homenagear a memória do grande poeta português, na passagem do 71º aniversário de sua morte, no dia 30 de Novembro.)