PRIMOGÊNITA

(Para Nathalia)

Chega o ponto em que furas este meu cerco de cuidados, temores e vigílias. O momento em que perco a velha utopia do poder sobre as milhas do mundo que te arrebata e vais de bom grado... Não tens temor.

Meio choro e sorrio. Sinto no fundo essa mistura de amor, orgulho, egoísmo e medo que se combatem. Que se atritam à sombra da realidade sem saída. Desta hora em que a vida não pede: Chega plena de si, e devidamente paramentada exige a tua mão... E não aceita um não como resposta.

Levam-te as horas crescentes dos teus estudos. Levam-te as vias da formatura e do futuro mercado de trabalho. Também te leva o primeiro amor, que rapta o tempo restante; a mente; o coração. Minha lupa está gasta, embaçada, meus olhos te alcançam cada vez menos.

Tudo faz entender que preciso abrir meu peito. Confiar nos teus pés; nas tuas asas. Apostar nos valores em que acredito e dos quais te fiz herdeira, para que também herdes um mundo sustentável.

Já entendo que, doravante, nada mais será do meu jeito. Rendo-me aos fatos, acalento meu coração, mas me permito a última exigência, e nisto, quero que me obedeças: Que sejas feliz... Para sempre feliz.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 25/03/2012
Reeditado em 25/03/2012
Código do texto: T3574909
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.