MEU RIO CHORA

Tão hígido e solene meu rio surgiu;

Como sangue, da terra ele escorreu;

Desbravou florestas brotando vidas;

Ancho caminho ele percorreu.

Premiou sua gente com tamanha opulência

Enchendo de orgulho seus fieis pioneiros

Suas águas levavam e traziam esperança,

Com a navegação no grande guerreiro.

Assim fluía meu rio Madeira.

Mas o futuro progresso tornou-se presente;

Insanamente acolheu a hidrelétrica indolente;

E na tétrica expectativa de sua alteração;

Meu jovem rio chora sua sina.

Fadigado pelos vertedouros das usinas;

Chora pela sua força que não mais domina.

Quando seus agitados banzeiros;

Tocam os troncos e galhos que boiam:

Meu rio chora.

Com saudade do bufar dos botos faceiros;

E dos roncos das suas lindas cachoeiras.

Quando a noite deixa suas águas serenas:

Meu rio chora.

Lembrando-se dos peixes, na alegria da piracema;

E da quizila dos pescadores panema;

Chora pelo olhar triste dos beiradeiros;

E a dor causada pelas comportas traiçoeiras.

Pensando nos arrotos que de suas águas brotavam;

Meu rio chora.

Por paliar os venenos que nele se espalham;

Pelas asfixias das espécies indefesas;

E pelos desalentos que os ribeirinhos expressaram.

Marejado pelas lembranças;

Na monotonia de um remanso, meu rio descansa.

Prisioneiro de usina... É real seu destino.

Nada é mais como outrora... Por isso:

MEU RIO CHORA