Despedida

Eu diria que a vida é feita de oportunidades e situações, que às vezes trazem com elas as mudanças. Não tenho medo de mudar, tenho medo mesmo é de me perder dentro de uma casca de ovo, onde nunca me encontrarão.

Posso dizer ainda que me sinto como a lua, cheia de fases. Giro num ciclo e outro, mostrando a cada volta uma pequena parcela de mim. O giro é sempre o mesmo, a mesma órbita, o mesmo percurso, mas então, o que muda?

Mudam as pessoas, mudam os olhos que me observam. São os sentimentos dos observadores. Eles me renovam, eles que me modelam. Hoje a lua que nem vejo, amanha a lua cheia que enche o coração de sonhos e esperanças. Outro dia quem sabe apenas uma lua minguante, chateada em seu canto, sem nada a completar, mas que ainda é um indicativo de tempo bom para se cortar o cabelo.

Assim é a minha vida, modelada pelas pessoas que vivem com ela, meus pais, meu amigos, meus colegas e meus alunos, estes principalmente.

Eles não se dão conta, eu também não me dava, mas parte da minha vida atual é com eles que divido, é com eles que eu fico. Ensinando, brincando, dando espaço e exigindo o meu. Uma troca equivalente. Uma visão um pouco diferenciada como educadora? Não creio, minha missão é ensinar e acho que posso me orgulhar de um trabalho bem feito. Porém, antes de educadora, também sou uma pessoa comum, que talvez cativou de verdade muitos dos meus pequenos meninos.

O que não me deixa esquecer a frase que mais me marca “Você é eternamente responsável por aquilo que cativas”, retirada do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

“Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo. Minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. O teu passo me chamará para fora da toca, como se fosse música. A gente só conhece bem as coisas que cativou.

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal- entendidos. Cada dia te sentarás mais perto...Se tu vens por exemplo, às quatro da tarde, desde às três, eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!”

E eu cativei, não todos, mas uma boa parte e eu cuidarei, eternamente se preciso. Isto não é meu fim, a lua desaparece em tempos carregados, entretanto logo ela voltará a brilhar, para todos, basta apenas olhar para o céu.

É chegada minha hora de mudar. Espero que entendam. Um dia quem sabe, eu entrarei novamente na casa de vocês pelas mãos de seus filhos, seja em um caderninho de disciplina de ciências ou pelo meu tão sonhado livro de ficção (risos). Eu não vou desaparecer assim, estarei aqui, sempre para vocês, por vocês.

Não é meu fim e este eu espero que esteja um bocado longe. Aí uma coisa eu EXIJO de vocês, no meu velório, por favor, me faça ter orgulho! Quero que expliquem o processo da decomposição para cada um que estiver lá! (risos).

Meus pequenos, com pesar eu os deixo, mas em cada um eu plantei a minha semente, a cada um eu distribui bons ensinamentos e concepções, basta agora vocês escolherem em cultivar ou procurar sementes novas, mais atrativas ou interessantes. E nada impede que vocês cultivem um jardim também, várias flores, cada uma originada de uma pessoal especial, de um momento importante.

Eu agradeço do fundo do coração cada momento compartilhado comigo em sala de aula ou em um recreio qualquer. A melhor professora, que alguns consideram, é espelho dos excelentes alunos que tive e é a vocês que devo agradecer, eternamente. É minha hora de mudar mais uma vez e aqui deixo mais um ensinamento: não tenham medo de mudar, faz parte da vida. E são essas mudanças que vão tornar vocês únicos.

Eu seguirei minha jornada agora e logo quero notícias das jornadas de vocês.

Um beijo imenso para cada um (eca) e um abraço caloroso, feito aqueles que recebi de vocês, desajeitadamente.

Da professora de biologia maluca, que tem as camisetas mais nerds e que fala sobre zumbis na sala de aula.

“Deixo meus alunos, mas levo meus aprendizes”

Viajante Ls
Enviado por Viajante Ls em 25/04/2013
Reeditado em 18/02/2014
Código do texto: T4259313
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