Era uma vez uma guerreira

In memoriam 

Nos idos de muito tempo... era quase primavera. Já havia perfume no ar. A natureza brotava esplendor por toda a parte. E os botões pipocavam em flores de todas as cores, em todos os lugares, nas praças, nos jardins... Em meio a esta beleza, veio ao mundo uma linda menina... frágil, de olhos escuros...

E Deus, sábio, entregou-lhe uma espada e vaticinou: “Precisarás dela, pois serás uma tenaz guerreira, envio-te para a vida, terás alegrias, mas enfrentarás muitos desafios. Vencerás todos, mas precisarás lutar”.

Com o tempo, a menininha notou que aquela espada feria, cortava, machucava... e, como Deus também lhe dera dons de fada, ela transformou a espada de aço em espada de amor. E foi com a espada de amor que fez a sua longa caminhada pela vida.

Cresceu e fez-se moça na “Cidade Maravilhosa”. Ainda brincava a sonhadora menina de Copacabana nas ondas do mar, quando apareceu na sua vida um gaúcho de olhos azuis. Passou a observá-lo e intuiu, mais que concluiu: “Que homem! Além de lindo, bom”. Seu coraçãozinho já estava tomado de amor, no que foi retribuída. Um amor tão grande como o mar que se perdia de vista.

Casaram-se, e a jovem trocou as areias e a praia do Rio pela cidade provinciana de Porto Alegre, o calor pelo frio. Chegou à nova morada cheia de sonhos e encontrou uma família instalada, trabalho... muito trabalho, sogra, cunhados, sobrinhos e assumiu a família do marido (sem jamais esquecer a sua), amou incondicionalmente. Com sua espada de amor protegia a todos (com defeitos e qualidades) que procuravam conforto no seu regaço, e foram muitos. Retribuíam também com amor (a espada era eficiente, contagiava) o carinho e a acolhida que recebiam.
Se sofreu? Deus vaticinara, mas ela possuía a mais poderosa arma que alguém pode ter: o amor.

Frutos da paixão da Carioquinha com o Gaúcho de Restinga Seca, nasceram sete rebentos, infelizmente dois Deus chamou “antes do combinado”, mas ficaram cinco. Pérolas. Por elas, a jovem, a mãe de todos, lutou bravamente, amou-os sem limites. Perto dela cresceram netos e bisnetos, recompensando faltas e dias amargos.

Finalmente, neste outono, como uma folha levada pelo vento, Deus pegou na sua pequena mão e levou-a para perto dele. Havia preparado a mais linda festa no céu de que se tem notícia, e ela não poderia faltar. Afinal, ela era a “guerreira do amor”.

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