VARINHA Quase de CONDÃO

Comparando os tempos e os frívolos e inócuos aforismos que criam para justificar as mudanças que ocorrem no nosso meio social e um deles é o tal de “Os tempos mudaram”, porque respeito mútuo entre os cidadãos deveria vir incorporado ao DNA humano, trouxe à memória, a senhora chamada Elza e numa benévola falha de memória, esquecer o seu nome e qualifica-la, enquanto habitou este espaço terreno, de “Anjo materializado”.

Aquela senhora de cabelos ralos e minguados, óculos caídos sobre o nariz, olhar espevitado, andado espigado, jeito simples de interiorano e mentora de austeridade como princípio profissional, moral e ético, foi a minha terceira ou quarta professora notável, à qual fui subordinado aos seus relevantes ensinamentos e sabedoria.

Onde quer que esteja e não tenho dúvidas que o ambiente é o melhor possível, pois pessoas com sua admirável presteza e benevolência estão cada vez mais escassos nesse universo chamado “Tolerância Humana”, dirijo à ela essas poucas linhas, pedindo encarecidamente que perdoe-me pela rebeldia. Admito que os poucos cabelos que possuía, diminuíram ainda mais quando conheceu-me como aluno.

Dona Elza tinha convicção plena do que fazia e fazia-o pelo amor ao próximo, sentimento de nacionalismo, aguerrimento social e humano e presteza com o resultado final, que é a formação de cidadãos sustentáveis, capazes e homens comprometidos com o todo. Se lembro-me bem, desconheço um ex-aluno que orientado por ela em todos os sentidos, tenha enveredado por caminhos, que não sejam, os da retidão.

Sem esperar pelas mal fadadas reuniões de Pais e Mestres, ela possuía o dom, o comprometimento de ir à casa de aluno por aluno, fazer verbalmente a reclamação ou elogio se fosse o caso. Indo aos lares ( pelo menos na casa de meus pais era assim ), reuniam-se o aluno, a mãe, se possível o pai e ela; formando uma mesa redonda. Como a premissa, logicidade e justiça, fazendo isto, todos tinham direito à defesa, o que não era o meu caso. Aonde arrumar meios e palavras de defesa? As palavras dela eram as minhas verdades! Frente a frente, olho a olho, abrindo espaço para a vergonha e reflexão consciencial, as verdades sobrepõem as mentiras; pelo menos esse deveria ser o preceito máximo na relação humana.

Especialmente, nas reuniões em minha casa, havia mais um convidado nada ilustre, que era uma Varinha de Marmelo, que ficava ouvindo tudo e quando chamada a intervir, obviamente como juíza, dava ganho de causa para a estupenda professora dona Elza. Afinal de contas, meus pais conheciam o âmago e as traquinagens do filho que adotaram, como a palma das mãos deles. A Varinha era de Marmelo, mas sem mistérios, fantasias e magias, instantaneamente a transformava quase sempre, numa doce, delicada e regenerativa varinha de condão.

Mesmo se fosse hoje, correção e punição nada mais justa que não fosse àquela; pois cada um que pague como merecer pelos seus atos e quem conseguia sair pulando carteira por carteira, passando a mão tateando os segredos que não tenho e logicamente, não os perdi, por debaixo das saias e vestidos da mulherada, quebrando vidraças, colocando mijo em cima das portas dos banheiros para alguém tomar um banho fora de hora "y coisitas mas', não podia de maneira alguma passar incólume às reprimendas; sentença que a juíza determinava e os meus pais cumpriam sem o mínimo de questionamento. Sobre meus atos insanos, Dona Elza era a correta advogada aplicando as leis, os meus pais sentenciando e a Varinha de Marmelo quase de condão cumprindo as penas e punições.

Prezada e estimável Dona Elza, o tempo passou, mas as recordações que não representam as águas correntes, jamais passarão. Saiba que o pouco que sou hoje, devo ao contexto experimental de vida por qual passei e passo, abalizado naturalmente pelos seus ensinamentos. Rogo à horda de anjos, à qual imagino que a senhora faça parte, que batam asas mundo-afora e cheguem aos lares e faça o mesmo que fizera comigo: esclareça os responsáveis pelos impropérios e absurdos cometidos a todo instante pelos nossos irmãos.

Prestimosa e indizível professora, que tenhas, como sempre deixou transparecer, (mesmo infernizada por alguns diabos) Serenidade e Paz!

Dona Elza, além do perdão, um pedidinho bem pequeninho, olha o último: teça com a horda de anjos, Cristo e Deus um balainho e guarde-o para mim, daqui uns dias estou indo e obviamente, quero aproximar-me das pessoas que foram exemplo e bem quistas aqui neste paraíso do insensatos. Embora que em certas ocasiões o desentendimento tenha marcado presença à nossa relação, os bons devem se redimir dos erros e se unirem; sempre!

Salve, salve preciosidade e MESTRA na arte de ensinar e educar! Meu apreço...muito agradeço!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 14/04/2015
Reeditado em 15/04/2015
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