SONETO PARA MACHADO DE ASSIS :" VenceDor"

“Capítulo LV"

Um Soneto))

[E Dom Casmurro disse:

( ... ) contarei a história de um soneto que nunca fiz. Era no tempo do seminário, e o primeiro verso é o que ides ler:

"Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura!"

Como e por quê?, me saiu este verso da cabeça, não sei; saiu assim, estando eu na cama, como uma exclamação solta, e, ao notar que tinha a medida de verso, pensei em compor com ele alguma coisa, um soneto.

( ... )

Aguardei o resto, recitando sempre o verso, e deitado ora sobre o lado direito, ora sobre o esquerdo; afinal deixei-me estar de costas, com os olhos no teto, mas nem assim vinha mais nada. Então adverti que os sonetos mais gabados eram os que concluíam com chave de ouro, isto é, um desses versos capitais no sentido e na forma. Pensei em forjar uma de tais chaves, considerando que o verso final, saindo cronologicamente dos treze anteriores, com dificuldade traria a perfeição louvada; imaginei que tais chaves eram fundidas antes da fechadura. Assim foi que me determinei a compor o último verso do soneto e, depois de muito suar, saiu este:

"Perde-se a vida, ganha-se a batalha!"

Para me dar um banho de inspiração, evoquei alguns sonetos célebres, e notei que os mais deles eram facílimos; os versos saíam uns dos outros, com a ideia em si, tão naturalmente, que se não acabava de crer se ela é que os fizera, se eles é que a suscitavam. Então tornava ao meu soneto, e novamente repetia o primeiro verso e esperava o segundo; o segundo não vinha, nem terceiro, nem quarto; não vinha nenhum.

( ... )

Trabalhei em vão, busquei, catei, esperei, não vieram os versos ( ... ). Mas, como eu creio que os sonetos existem feitos, como as odes e os dramas, e as demais obras de arte, por uma razão de ordem metafísica, dou esses dois versos ao primeiro desocupado que os quiser. ]

* * * * *

Este desocupado aceitou o desafio - Henricabilio:

VENCE_DOR

“Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!”

Serias brilho de qualquer jardim,

Beleza rara, um tal feitiço em mim...

Sonhei demais, estar à tua altura.

Mas, Oh! Flor de inegável formosura!...

Sem glória, usei o meu rude latim

E esta mágoa levou-me a pôr um fim

À vida, num momento de loucura.

Sofri nesse ato e também fiz sofrer,

Mas um amor jamais pode morrer

E ganhei da paixão a vã medalha:

Vens rezar aos meus pés, dia após dia,

Pelo perdão - Oh! Flor - na pedra fria!...

“Perde-se a vida, ganha-se a batalha!”

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Escrito em 25.01.2008, por Abílio Henriques

HENRICABILIO e Machado de Assis
Enviado por HENRICABILIO em 10/02/2016
Código do texto: T5539499
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