O Cowboy de Minas - Lucas Durand

O mundo encolheu depois da Internet e quem tem  boa  imaginação, e um lap top de primeira linha, viaja não só no seu pensamento  mas  pega carona com os  inúmeros  poetas, escritores  e  porque  não  com  os  cowboys  também.

Conheci um mineirinho aqui no Recanto das Letras que era do tipo come quieto que adorava contar causos e escrever crônicas. Um dia, durante uma conversa sobre escrever e publicar livros, esse mineirinho me contou que era autor de alguns livros. Que curioso, eu pensei,  e fui pedindo mais informação sobre seu trabalho literário. Me contou que seus livros eram sobre o Velho Oeste. Fiquei mais curiosa e perguntei se já tinha visitado o Texas, respondeu que não. Então, como conseguia escrever suas histórias de cowboys? Estudo e pesquisa ele revelou, muita pesquisa.
Acho que devido à minha curiosidade, ele me ofereceu um livro intitulado 'O Retorno De Hustin' e quando me contou que tinha um pseudônimo, J.G. Hunter, senti que esse mineirim´ levava suas histórias de bangue bangue mesmo a sério.
Justamente eu que não sou nada chegada em histórias assim. Como bom mineiro, insistiu e deixou claro que o trabalho dele era diferente daqueles livrinhos de cowboy de bolso que vendem nas bancas de jornais. Dei risada e respondi que livro é que nem filho: o seu é sempre o mais bonito, dos outros é feio. Ele riu e garantiu que sua obra era boa. Não aguentei e soltei uma risada daquelas. E bem sério ele disse: "Você vai ganhar o livro, menina. Não vai gastar nenhum tostão e ainda vou autografá-lo especialmente para você". Ao ouví-lo rir, gargalhei.

                     

Não queria que ficasse sem lucro, afinal ele era um escritor e sua remuneração era necessária. Então fizemos um trato: Ele mandaria dois livros, um para mim e outro para eu presentear o meu Tio Feliciano que adora ler histórias de bangue bangue. Pois bem, o J.G. Hunter honrou sua palavra. Quando os livros chegaram, logo avisei por causa dos atrasos que ocorriam com as entregas feitas pelos Correios, sem contar as perdas e roubos de encomendas. 
O Hunter me perguntou se eu havia terminado de ler o livro. Contei que o meu Tio adorou o livro. 'O Retorno do Hustin' havia sido um ótimo companheiro para o meu Tio enquanto ele se recuperava de uma cirurgia. Mas eu, muito sem graça, respondi que não havia começado. Sempre dava uma desculpa esfarrapada até que um belo dia, depois de dois meses, acordei muito animada e resolvi ler aquele bangue bangue onde o mineirinho prometia muita ação, romance e história.

                            

E não é que o livro daquele come quieto me prendeu totalmente! Li o livro em dois dias durante a semana entre uma aula e outra. Até sonhei com, 'The Old Wild West' do John Wayne kkkk Aquele mineirinho nunca viajou ao Texas de George Bush mas ele realmente sabia contar uma história sobre cowboys, o Texas e romance ... daqueles bem trágicos.

       

Conversamos muito sobre o livro e histórias de cowboy, sobre nossas vidinhas, o Recanto e principalmente sobre os nossos pais: ele sobre a mãe e eu do meu pai.
Ele lia meus rabiscos aqui no Recanto das Letras e sempre deixava comentários que me faziam rir mas principalmente me incentivavam para escrever mais, principalmente em escrever um livro educativo para o ensino da língua inglesa.
Não via a hora de entrar na página dele de manhã cedo e ver o que ele tinha postado. Adorava ler os causos que vinham com aquele tempero mineiro só dele enquanto degustava o meu chá. Toda vez que lia algo dele, eu sorria ou chorava.

                               
Quando soube que ele havia partido, nem acreditei. Que bandido: morreu dois dias depois do meu aniversário.
E lá se vão quase oito meses. O tempo realmente voa mas ainda bem que tem muitas histórias dele guardadas aqui no Recanto assim podemos matar a saudade dele qualquer hora do dia.
Descanse em paz cowboy mineiro que adorava uma boa prosa, causos e os amigos.
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 23/10/2016
Reeditado em 24/10/2016
Código do texto: T5800937
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