Pio XII, o "Pastor Angélico"

PAPA PIO XII, O “PASTOR ANGÉLICO”
Miguel Carqueija



Eu tenho a felicidade de possuir, e já li mais de uma vez embora seja um tijolo, o livro “Pio XII e os problemas do mundo moderno”, editado há muitos anos pelas Edições Melhoramentos, tratando-se de uma compliação feita por Michael Chinigo de textos escritos por Pio XII (Cardeal Eugênio Pacelli), que, depois de ter sido Secretário de Estado do Vaticano durante o pontificado de Pio XI, governou a Igreja em crucial período, de 1939 a 1958. Muita gente não sabe ou percebe mas os papas além de muito cultos e virtuosos costumam ser também excelentes escritores e isso não é de hoje; o grande Papa Leão Magno viveu no século V e deixou notáveis escritos, eu mesmo possuo um livro com alguns de seus sermões.
O excelente livro de Pio XII apresenta diversos textos como encíclicas, cartas apostólicas, discursos e as famosas “radiomensagens” então uma forma nova de evangelização. É uma das obras mais saborosas que já li e por onde se percebe a serenidade, a sabedoria, a lucidez e a santidade deste grande pontífice, um dos maiores luminares da humanidade durante o século XX. Pio XII também é grandemente estimado pelo povo católico por ter proclamado, em 1950, o dogma da Assunção da Virgem Maria.
Durante a II Guerra Mundial a insânia de Hitler produziu, paralelamente aos horrores da guerra, um horror mais silencioso: a perseguição aos judeus, afinal exacerbada pela matança nas câmaras de gás, em campos de concentração.
Em 1943 Mussolini, ditador fascista da Itália e aliado de Hitler, foi derrubado e forças nazistas ocuparam boa parte do país peninsular. Nessa grande aflição a Igreja Católica, sob o decidido comando do Papa, desenvolveu aquela que foi, ao que tudo indica, a maior operação de salvamento humano de todos os tempos. Ocultar os judeus, famílias e mais famílias, ou propiciar-lhes a fuga.
No artigo “Pio XII conseguiu salvar 63,04% dos judeus de Roma durante a perseguição nazista”, José Calderero apresenta inclusive alguns nomes. O depoimento é importante ainda mais quando sabemos que os inimigos da Igreja Católica, movidos pelo ódio, espalham contra o pontífice que foi chamado inclusive “O Pastor Angélico” as piores calúnias possíveis, dizendo que ele foi um papa nazista, cúmplice de Hitler e por aí afora, e que apoiou a perseguição aos judeus. Ora, tais barbaridades, pelo que sei, começaram a ser espalhadas uns cinco anos após a morte de Pio XII. Porém, pesquisadores como Dom Estevão Bittencourt e outros, já desmontaram tais intrigas infames. Assim se expressou Calderero:


“Tentaram despejar sobre a figura do venerável Papa Pio XII uma covarde quantidade de lendas negras a propósito da sua suposta “colaboração” com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A investigação histórica séria, no entanto, vem desmontando essas mentiras uma por uma. A mais recente a desabar (mais uma vez) é a da alegada falta de ajuda aos judeus durante a perseguição nazista.
Já havia numerosos testemunhos e documentos sobre as ações do Papa em favor dos judeus, apresentados amplamente, em 2014, durante o Congresso “Pio XII, o Papa da Caridade”. Agora, “estamos em posse de novos testemunhos de judeus, de novos documentos e arquivos”, explica o diácono Domenico Oversteyns, que confirmam e revelam ainda mais claramente a amplitude da ajuda que o Papa Pacelli prestou aos judeus.”
(JOSÉ CALDERERO, texto publicado em cleofas.com.br, reprodução de: http://pt.aleteia.org/2017/03/09/pio-xii-conseguiu-salvar-6304-dos-judeus-de-roma-durante-a-perseguicao-nazista/)


O artigo cita nominalmente, entre os protegidos, Lilia Coen e filhas; Sra. Sestieri e filhos; Sra. Lucia Basevi e filhos; Gino de Benedetti e família. Cita o Instituto de Franciscanas Missionárias Clarissas do Santíssimo sacramento e o Instituto de Adoração, entre as casas religiosas de Roma que abrigaram judeus para salvá-los da perseguição; 160 ficaram no próprio Vaticano.
Estes dados apenas trazem novas informações pois através dos anos a verdade sobre a atuação da Igreja no ocultamento do povo judeu na Europa sob tacão nazista vai se ampliando com descobertas de documentos comprobatórios além dos testemunhos inclusive de judeus; a própria Golda Meir elogiou Pio XII que antes, havia sido elogiado por Albert Einstein.
Acusam Pio XII de ter silenciado sobre o holocausto. É preciso entender que este grande papa agiu como um herói e como um santo e fez o que estava ao seu alcance. Agiu com astúcia, e sob sua orientação a Igreja conseguiu livrar da morte certa uma quantidade tão enorme de judeus que jamais será inteiramente contabilizada. Já se fala em 800 mil! Como conseguem lançar insultos contra Pio XII! Será que salvar 800 mil seres humanos é uma ação má?
Consta que Adolf Hitler tinha uma ideia de sequestrar Pio XII e possivelmente matá-lo se o papa se tornasse um empecilho. Para tanto haveria um esquema no sentido de tomar o Vaticano em 40 minutos. Pio XII devia estar a par desses riscos e optou pelo que era mais viável, ou seja uma vasta operação subterrânea que atingiu a própria Alemanha. Por toda a parte onde havia nazismo os padres, freiras e leigos católicos esconderam ou deram fuga a hebreus.
No entanto Pio XII pronunciou-se sim sobre a questão, numa radiomensagem do Natal de 1942, condenando a perseguição. Reafirmou essa posição num discurso aos cardeais já em 1943. Segundo a própria Wikipedia, que não é página católica, pelo menos 3000 judeus foram abrigados em Castel Gandolfo. Além disso foi concedida cidadania do Vaticano a pelo menos 800.000 judeus.
Dado impressionante: se durante o conflito foram mortos 80% dos judeus na Europa, se considerada apenas a Itália 80% se salvaram!
Mais: o diplomata e historiador judeu (sic) Pinchas Lapide, no seu livro “Three popes and jews” (Londres, 1967) declarou: “Pio XII, a Santa Sé, os núncios do Vaticano e toda a Igreja Católica teriam salvo de 700 a 850.000 hebreus da morte certa no regime nazista.” Assim como polícias e exércitos não avisam de suas manobras para não alertar os inimigos, Pio XII não pôde fazer campanha cerrada contra Hitler porque, se o fizesse, o regime nazista intensificaria sua perseguição contra os próprios católicos da Alemanha (além da projetada ocupação do Vaticano), dificultando os auxílios secretos que eram dados a judeus e ciganos para que fugissem do país. Pio XII agiu com a maior sabedoria possível, a sabedoria de um homem de Deus e em termos de nobreza superou de muito Churchill e Roosevelt, contra os quais, sim, há sérias restrições a fazer.
O Papa Pacelli agiu como um HERÓI ao arriscar o próprio pescoço na salvação efetiva dos seres humanos que estavam a seu alcance salvar (aos já detidos, restavam as orações); agiu como um SANTO visto que, após a guerra, silenciou sobre a sua humanitária campanha, não a trombeteou aos quatro ventos, tanto assim que até hoje, ao que parece e apesar de todos os documentos, poucas pessoas estão cientes.
Estamos portanto diante de um verdadeiro benfeitor da humanidade, como pode reconhecer qualquer pessoa, católica ou não-católica, que se disponha a estudar o assunto com isenção.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 2017.