Pensando, anotando, aprendendo

No que eu estava pensando...

Bom, eu não posso começar a pensar...

Vejam onde os pensamentos me levam...

Ora, hoje, abrindo um livro qualquer de minhas atuais leituras, li uma anotação minha, uma daquelas que sempre faço, a qualquer momento que surja a necessidade, onde e com que me estiver à mão, para não me esquecer de mais tarde ou quando um dia qualquer que eu a encontre, e, com tempo, eu possa sobre essa anotação fazer minhas buscas e acrescentar algo mais ao conhecimento.

Não importa onde eu a registro, importante é que chamou a atenção esse pequeno detalhe, e eu, como detalhista, vou procurar mais sobre isso, e, porque não, também compartilhar com quem possa se interessar.

Muitos detalhes do cotidiano passam desapercebidos para maioria das pessoas. Comigo não é diferente, mas, desde menino, desenvolvi essa forma de observar meu mundo, minhas coisas e minha gente.

No meu costume de registrar essas coisinhas curiosas, e aliado isso à uma imensa vontade de conhecer mais o nosso povo e a cultura popular, quero hoje levar aos amigos uma delas.

Ocorreu já há algum tempo, mas, como essas preocupações com o tempo, já não me afligem mais, qualquer momento é propício para poder divulgar, mesmo porque, me sinto extremamente egoísta em guardar para mim, essas coisinhas banais...

Assistindo o programa de Música Popular Brasileira chamado “Sr. Brasil”, do também famoso artista Rolando Boldrin, na TV Cultura, em 17/08/2014, no qual o grande poeta, compositor e cantor nordestino, Luís Vieira, apresentou-se, e ele, nas suas falas muito gostosas de se ouvir (é sempre um deleite), lembrou o poeta popular Lourival Batista, no "repente" "Piores Vícios do ser Humano", e dessa fala, fiz a seguinte anotação no livro que estava à mão naquele momento:

O homem que joga e fuma,

No vício da embriagues,

Cachorro que pega bode,

Mulher que dá uma vez,

Não há remédio no mundo,

Que cure nenhum dos três.

Em princípio, pode até soar chula e doer alguns ouvidos mais sensíveis, mas, trata-se de cultura também e nisso, nosso rico cancioneiro está repleto. E não há como se questionar “cultura”, no “Stricto Sensu” desse vocábulo. O que fazemos é sempre admirar as mais variadas formas com que ela se manifesta, em cada canto, em cada rincão do nosso vasto país e no mundo. E “cultura” não se muda também, cabe-nos sempre respeitá-la, como é e tal como se manifesta. Estudá-la, enriquece o nosso “conteúdo” intelectual, nos aproxima mais do que realmente somos e o mundo em que vivemos.

Bom, assim é que, verificando o citado registro, fui buscar um pouco mais do personagem, citado por Luís Vieira, e, vejam só quanta coisa bonita...

Lourival Batista Patriota, também conhecido por Louro do Pajeú, nasceu em São José do Egito, aos 6 de janeiro de 1915, e faleceu nessa mesma cidade aos 05 de dezembro de 1992. Ele foi um repentista brasileiro.

Considerado o rei do trocadilho, concluiu o curso ginasial em 1933, no Recife, de onde saiu para fazer cantorias.

Foi um dos mais afamados poetas populares do nordeste brasileiro.

De família de repentistas, era irmão de outros dois repentistas famosos (Dimas e Otacílio Batista) e genro do poeta Antônio Marinho (a guia do sertão), tendo sido um dos grandes parceiros do paraibano Pinto do Monteiro.

Sempre viveu dessa arte de repentista e cantador. Apresentou-se, assim, em várias partes do Brasil.

Participações históricas

• Cantoria realizada no Teatro de Santa Isabel, juntamente com seus irmãos e patrocinada por Ariano Suassuna, em 1946;

• I Congresso de Cantadores do Recife, no Teatro de Santa Isabel, organizado por Rogaciano Leite em 1948;

• II Congresso de Cantadores do Recife, organizado por Ésio Rafael em 1987 e realizado no mesmo teatro;

Parcerias

Louro do Pajeú teve Pinto do Monteiro como companheiro de cantorias.

Referência bibliográfica

Alguns livros que trazem poemas e textos de Lourival Batista:

• WILSON, Luís. Roteiro de Velho Cantadores e Poetas Populares do Sertão. Recife: Centro de Estudos de História Municipal, 1986;

• MATOS, Cremilda Aquino de, Ésio Rafael e Isabel Maria Martins da Silva (org.). Antologia Didática de Poetas Pernambucanos (organizadores: ). Recife: Governo de Pernambuco, Secretaria de Educação, 1988;

• MELO, Alberto da Cunha.Um Certo Louro do Pajeú (Uma Reportagem). Natal: EDUFRN – Editora da UFRN, 2001;

• VERAS, Ivo Mascena. Lourival Batista Patriota. Recife: CEPE, 2004;

• CAMPOS, Antônio, Cláudia Cordeiro (Org.). Pernambuco, terra da poesia. IMC/Escrituras, 2005.

Outras referências:

1.https://jconline.ne10.uol.com.br/…/lourival-batista-farao-d…

2. http://saojosedoegitope.wixsite.com/inicial/personalidades

3.https://jconline.ne10.uol.com.br/…/lourival-batista-farao-d…

Ligações externas:

• São José do Egito Online

• Interpoética

• A capital nordestina dos repentistas

• Interpoética

Em tempo, São José do Egito é um município brasileiro situado no estado de Pernambuco. Localizado na Mesorregião do Sertão Pernambucano e na Microrregião de Pajeú. Administrativamente, o município é composto pelos distritos Sede, Bonfim, Riacho do Meio e pelos povoados de Batatas, Curralinho, Mundo Novo, São Sebastião de Aguiar, Espírito Santo e Juazerinho. Sua população, conforme estimativas do IBGE de 2018, era de 33 789 habitantes, sendo o 3º município mais populoso da Microrregião do Pajeú, atrás apenas de Serra Talhada e Afogados da Ingazeira.

Por ocasião do centenário de se nascimento (Janeiro/2015), Lourival Batista, Faraó da poesia, teve em sua homenagem uma série de manifestações, das quais uma delas transcrevo (do Link acima, acessado agora há pouco 14/12/2018 – 12:37hs) nesses meus devaneios, para mostrar um pouco desse “personagem que acabo de conhecer”:

"Poetas, cantores, turistas, celebram Louro em São José do Egito"

Publicado em 03/01/2015, às 06h36

Foto: Reprodução/Internet

José Teles

"... Saí dali convencido

Que não sou poeta não,

Que poeta é quem inventa

Em boa improvisação

Como faz Dimas Batista

E Otacílio seu irmão,

Como faz qualquer violeiro,

Bom cantador do Sertão,

A todos os quais humilde

Mando minha saudação".

Os versos de Manuel Bandeira exaltam os irmãos Dimas e Otacílio, e os cantadores em geral, são sempre citados pelos admiradores da cantoria de viola, como prova irrefutável, atestado por um poeta consagrado, da superioridade do repente sobre a chamada poesia de gabinete. No entanto, nem todos os poetas de gabinete são um Manuel Bandeira, nem todos os repentistas um Dimas ou um Lourival Batista, os dois lendários violeiros de São José do Egito, que com Otacílio Batista foram chamados de os Três Faraós da poesia do Sertão.

Todos eles são falecidos, Dimas, em 1986, Otacílio em 2003. O terceiro, mais velho dos irmãos, faleceu em 1992, e completaria 100 anos no dia de Reis. A cidade onde viveu a maioria dos seus anos está em festa, que se encerra na terça-¬feira com um baião de dois, um baião de viola com alguns dos mais importantes cantadores da atualidade. Embora fossem todos extremamente talentosos, da trinca de irmãos, Louro destacou¬se não apenas por ser o mais carismático, como também, e principalmente, por ter se dedicado em tempo integral ao repente.

Chegou a trabalhar ainda bem jovem, em empregos convencionais, mas por muito pouco tempo. Ele, assim como os irmãos, nasceu em Umburanas (hoje Itapetim), então distrito de São José do Egito. Por pouco tempo esquentou bancos de escola. Os pais mudaram¬se no final dos anos 1930 para o Recife. Lourival Batista foi matriculado no colégio Dom Vital, na Rua do Jiriquiti, na Boa Vista. Concluiu o equivalente ao 1° grau, mas não colou grau por não ter se submetido aos exames finais de religião. O espírito de aventuras o levou a pensar em alistar¬se nas tropas pernambucanas que iriam a São Paulo combater na revolução constitucionalista, deflagrada pelos paulistas em 1932. Estava com 17 anos e precisava da autorização dos pais, que lhe foi negada. Não precisava, no entanto, de autorização para cair no mundo da poesia.

A Praça Dom Vital, ao lado do Mercado de São José, era outro mercado de cultura popular, como foi até meados dos anos 80. Louro conheceu um cantador cego paraibano (de Patos), Cesário Pontes e começou a cantar com ele. A dupla acabou quando seu pai, Raimundo Patriota, descobriu¬se com um filho cantador de viola. Lourival Batista escapou da sanha paterna fugindo para a Paraíba, porém não durou muito sua incursão inicial como profissional do repente. Voltou para a casa dos pais, que o queriam continuando os estudos. Não adiantaria. Sua escola seria o mundo, e os professores os cantadores com quem foi se deparando e aprendendo em contendas poéticas Nordeste afora.

"Eu comecei com um cego

Minha carreira de artista

Cesário José de Pontes

Que foi grande repentista

Depois que ele morreu

Fiquei guiando os de vista"

O repente, cordel, estavam no DNA de Louro e dos irmãos, e vinha do século anterior. Vinha da linhagem de Agostinho Nunes da Costa da Costa (1797/1852), o primeiro grande marco da poesia popular nordestina. Mais tarde reforçaria o DNA da família, casando¬se com Helena, filha de um dos maiores nomes da história da poesia popular nordestina, Antônio Marinho (1887/1940). Seriam 60 anos dedicados à sua vocação. Notabilizou¬se pela agilidade de raciocínio, pelo humor fino e ferino. Criou milhares de estrofes, nas diversas métricas abrigadas no repente. Foram preservadas por sertanejos de memórias privilegiadas, como o lendário Zé de Cazuza (José Nunes Filho, Monteiro, 1929), guardadas de cor.

No entanto, apenas trechos de cantorias de Louro em dupla com diversos cantadores. Boa parte com Pinto do Monteiro (Severino Loureço da Silva Pinto, 1896, Monteiro¬PB), com quem Lourival Batista formou a que é considerada a mais perfeita dupla da cantoria de viola (coincidentemente, Pinto e Louro morreram no mesmo ano).

Boêmio inveterado, Louro largava¬se pelo sertão a pé, ou de carona, atrás de cantoria. A mulher, tabeliã de São José do Egito, garantia o sustento dos filhos. Ele se casou com ela viúvo de um primeiro casamento. Suas longas andanças à procura dos versos e da vida pelas estradas sertanejas, afastado da família, de vez em quando eram comentadas nas cantorias de que participava. Cantando com o irmão Otacílio, que terminou o improviso com os versos "meu irmão você devia ter mais respeito à Helena", contra-atacou:

"De fato devo ter pena

Meu amável companheiro

De minha querida Helena

Que é meu amor verdadeiro

Mas quando vou com a pena

Ela já vem com o tinteiro".

A poesia improvisada de Lourival Batista é bastante confessional, entre chistes, trocadilhos, artifício de que foi primeiro sem segundo, ele abre o coração em Gemedeira, Mourões voltados e Galopes à beira¬mar. Sobre o casamento com a filha do cantador Antônio Marinho, com quem chegou a cantar, tem uma das estrofes mais conhecidas:

"Eu me casei com Helena

Filha de um colega meu

E uma oitava de filhos

Do casal apareceu

Com dois, noves fora um

Quando fora sou eu"

A imprensa, troca as bolas em relação ao assunto, recorrendo sempre a cordelistas quando o assunto é poesia popular. Irrelevando que praticamente nenhum grande poeta popular vive mais dos antigos folhetos de feira, hoje praticado por diletantes, aspirantes a poetas, mas sem nenhum respaldo do povo, que o consumia aos milhares no passado (o próprio Louro foi também cordelista). Assim, o repente continua a viver à margem, existindo para um nicho cada vez menor de apreciadores, ou apologistas, com interregnos de abertura na mídia.

Foi assim, em outubro de 1948, quando Rogaciano Leite, poeta popular, poeta de gabinete, jornalista, intelectual renomado, organizou o primeiro congresso de cantadores no Teatro de Santa Isabel. Não confundir com um encontro de cantadores que o então jovem Ariano Suassuna levou ao citado teatro em 1946, certamente influenciado pelo congresso de violeiros que Rogaciano, também de São José do Egito), organizou, no mesmo ano, no Teatro José de Alencar em Fortaleza (Ariano, inclusive, trabalhou com Rogaciano no congresso de 1948).

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 14/12/2018
Código do texto: T6527120
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.