Mortos Não Esquecidos -Bisavó Edith

A bisavó Edith foi a única que conheci. Quando eu nasci, ela já quase 90 anos de idade. Eu a conheci já cega, nunca soube as causas. Na verdade, não sei nem seu nome completo, ou algo sobre sua história de vida. E quantas coisas alguém que viveu tanto deveria ter para contar. Ela morava no Rio de Janeiro, em Botafogo, na casa da tia Zezé, e eu em São Paulo, logo foram poucas as vezes em que a vi.

Lembro que ficava sempre sentadinha em seu canto, conversava pouco mesmo com os adultos, ainda menos comigo. Quando a gente é criança, não tem muitos assuntos e eu ainda por cima era tímido e calado.

Ela morreu com quase 100 anos, que eu lembre a primeira pessoa de minha família de quem eu soube da morte. Ela voltou à minha memória recentemente, quando assisti o desenho “A vida é uma festa”, no qual havia uma bisavó igualzinha a ela, sentadinha em seu canto, quase sem falar, ainda assim, parte da família.

Na estória, os mortos deixam de existir quando todos que os conheceram se esquecem deles. Essas linhas são quase tudo que lembro dela, espero que sirva para que outros recordarem e, se a versão dos mexicanos tiver sentido, para homenageá-la para que seu espírito fique bem, ela ainda é lembrada.
Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 17/02/2019
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