Meus Heróis Usavam Óculos

Ultimamente ando lendo muito HQ’s de super heróis. E acabei me dando conta que os heróis existem de verdade, pelo menos para mim. Mas meus heróis não usaram capas, nem armas, mas ainda assim me ensinaram a fazer o bem. Meus heróis tinham nome e codinome, como os heróis dos quadrinhos. Eles foram Antônio e Jeanete Kunitz. E seus codinomes? Ah, eu sempre os conheci por vô e vó. Mas também costumava chamá-los de pai e mãe às vezes, talvez para disfarçar e nenhum vilão vir tirá-los de mim.

Começo pela vó, “primeiro as damas” (como sempre dizia o vô). Ela juntamente com minha mãe, foi a responsável por eu admirar e respeitar tanto as mulheres. Uma mulher forte e batalhadora, que não queria saber de ficar cuidando do lar enquanto meu vô saía para trabalhar. Preferia trabalhar também, mesmo sem precisar, mesmo morando em uma época e sociedade onde isso não era bem visto. Ela dirigia também, pois não gostava de depender do meu vô para ir à casa das amigas jogar conversa fora, e ter mais uma tarde feliz. Lembro-me de a ver dirigindo e achar um máximo, pois meus amiguinhos sempre falavam coisas do tipo: “Nossa, sua vó dirige!”. Para mim aquilo era tão normal. Mas por algum motivo que na minha precoce existência, eu ainda não compreendia, para a sociedade não. Foi ali que ela me ensinou, sem nenhuma palavra proferida, que a mulher deve fazer o que tem vontade de fazer, e levo isso para a vida. Não consigo ter uma lembrança ruim ou mágoa. Uma grande mulher.

Agora vem o vô, a base da minha formação pessoal. Ele me ensinou mais coisas do que posso contar. Me ensinou a correr atrás dos sonhos, mesmo se todos forem contra, ele quem sempre me incentivou. Quando eu era criança, ele vivia falando que eu tinha mãos para ser tecladista, por algum motivo, ele queria que eu fosse músico, sempre insistia nisso, “o Matheus tem mãos pra ser tecladista”. E no fim ele conseguiu, hoje sou músico, amo muito tocar. E tudo começou por ele. Comecei a tocar teclado, mas logo desisti. Então agora minhas mãos eram boas para tocar contra-baixo. O cara não errava! Ali que me encontrei. Ele me ensinou a amar e respeitar o próximo, um grande mantra que carrego é o famoso “faça para os outros, o que você quer que façam para você”, Antônio Kunitz quem me ensinou, hoje levo essa frase mais a sério que qualquer outra coisa. A lembrança mais antiga que tenho na vida é o dia da morte do Senna. Eu tinha só três anos, recém-completado, mas me lembro de flashes. E em todos eles meu vô está lá, sentado na poltrona da minha tia olhando aflito pra televisão, como um bom amante de Fórmula 1 que ele era. Senna se tornou meu ídolo, mais por conta desses flashes, já que eu era muito pequeno quando ele corria. Me lembro sempre de sua serenidade e calma a falar, me espelho nesse comportamento, e tento segui-lo. Todo criança sonha em ter um superpoder de seu herói favorito. Esse é o superpoder que tento ter. Sem dúvida meu vô foi o maior homem que já conheci.

Meus avós também me ensinaram o amor. O amor como um todo, com o próximo, com a família e principalmente como um casal. Foram casados 50 e poucos anos e nunca os vi discutirem, e olha que eu vivia na casa deles. Às vezes meu vô empanturrava os netos de comida (comer era seu maior prazer) e minha vó “metia a boca” nele, mas ele só olhava, dava uma risadinha e mandava um beijo. Eles se amavam tanto que dormiam em quartos separados. Sim, isso mesmo que você leu. Mas eles dormiam em quartos separados porque roncavam e diziam “vou dormir no outro quarto pra não te incomodar o sono”. Isso é maravilhoso e único. Amar não precisa necessariamente estar junto sempre, a todo o momento. Amar é respeitar a necessidades do seu parceiro, ser companheiro, amar é saber que às vezes o outro precisa ficar sozinho para se sentir bem. E isso foi eles que me ensinaram.

Minha vó faleceu cinco anos antes do meu vô, e ele segurou firme (pelo menos pareceu) até que não suportou a saudade e falou para minha tia que estava cansado de ficar longe da mulher da vida dele, poucas semanas depois, ele se foi.

Kunitz é minha família materna, e uso sempre esse nome. Não porque não tenho pai, tenho e o amo. Mas, porque eles foram as pessoas mais importantes da minha vida. Me mostraram quem eu sou. Me ensinaram a ser HUMANO. Me deram a infância mais feliz que eu poderia ter. Me deram a ainda hoje me dão amor, sempre que penso em tudo que fizeram por mim. Eles fizeram muito por mim e eu não pude fazer nada por eles, a não ser essa homenagem. Pequena, comparada ao grande impacto que eles deram a minha vida. Onde quer que estejam, eles sempre serão meus heróis.

Matheus Kunitz
Enviado por Matheus Kunitz em 10/07/2019
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