25 de setembro

A chegada de setembro pra mim sempre foi motivo de avalanche de emoções, o fim de agosto já sinaliza a chegada de um certo temor. O mês de setembro ganhou uma conotação de saudades, eu fico muito saudosa. E passe os anos que passarem, sempre acordo no 25 de setembro muito emotiva. É algo que geralmente fico já mentalizando, "setembro tá chegando e lá vem o dia 25". Não é que exatamente algo se configurou como tristeza, amargura simples e pura, com o tempo a gente vai aprendendo a ressignificar os acontecimentos e marcos da vida que vai nos constituindo, e se tem algo que me marca enquanto gente é a minha relação com meu pai. Nossa despedida tão precoce me ensinou muitas coisas e é uma lição forte que tenho sobre o amor.

Às vezes eu choro e sabe, é tão lindo ver as lágrimas caírem... Elas lubrificam meus olhos pra que eu possa enxergar melhor a vida, lavam meu caminho e restauram a paisagem da jornada, do futuro que é incerto, me se sinto novamente tão menina e filha, alguém que às vezes realmente precisa de um colo paterno... eu me sinto tão viva quando ao pensar nele eu choro... isso limpa meu coração e me dá um brilho... meu sorriso volta mais forte, eu sinto!

Não é que eu lembre dele só nos 25/09, mas é uma data marcante e especial, na verdade é um marco daquele que mudaria e conduziria minha vida inteira. A cada data desta eu me surpreendo com o quanto eu aprendo a cada ano, com a passagem dos anos eu vou observando como eu sinto este fato e este laço, algumas coisas mudam e outras não. Esse ano eu parei pensando sobre a minha perspectiva sobre o mês, atribuí a setembro uma mística que já não faz sentido pra mim, este ano eu já não vivi toda a espera do "já vem setembro", mas ontem ainda pensei "amanhã é 25..."

A nossa despedida teve aspectos que ainda fico tentando decifrar e redescobrir, foi uma das únicas em que eu puder realmente me despedir, mesmo que não tivesse a consciência presente de que eu nunca mais o veria. Naquele 25/09/2006 a gente deu tchau e pedimos que Nossa Senhora acompanhasse a todos nós, da cama do hospital recebi o seu último olhar. Eu dei o tchau e não esperava a vida parasse ali de alguma forma, apesar das circunstâncias e de alguma forma sentir tudo que me envolvia eu tinha tanta esperança de ter o meu pai em casa de volta... O trajeto de Barbalha pra casa naquele dia não me sai da memória, passei o caminho inteiro pedindo pra Deus guardar e dar saúde. Ali eu já comecei a aprender que a vontade de Deus é maior que a minha, Ele sabe o que faz.

A cada ano eu venho vivenciando em silêncio o processo de luto, e não é necessariamente algo ruim e sofrido, tem a tristeza, mas o amor transcende tempo e espaço. Tudo que acho lindo nesse processo, eu aprendi sobre o amor, ele não precisa de toque ou presença pra existir, o amor supera distâncias, isso eu posso garantir. A cada ano eu não deixo de amar aquele que é o meu pai. Estamos em diferentes dimensões, mas isso não muda. Eu rezo para que ele esteja junto ao Pai Eterno, onde também desejo estar algum dia, de alguma forma também ele me inspira a desejar mais o céu e uma boa forma de amar e rezar pela pessoa.

Tenho aprendido tanto! O amor é realmente poderoso, eu nunca me senti sozinha, nunca me senti órfã, sempre me senti amada e cuidada, e isso fez tanta diferença, por que mesmo na ausência meu pai me ensinou sobre cuidados, sobre relações, sobre companhia. Se sentir abraçada sem toques e amada sem olhares, tem a ver com ter uma raiz de algo que ficou, não morreu, mas que vive!

Meu pai é pra mim o exemplo de homem, de esposo, de amigo e de pai. Queria saber mais dele e juntar o legado que ele deixou nas pessoas com quem viveu, escrever um livro sobre ele e relê-lo muitas vezes...

Meu pai não me deixou riquezas materiais, mas eu sei o quanto ele foi incrível. Ele pôde me ensinar sobre valores e condutas, ele me educou, mesmo que não tenha tido tanto tempo para me dar conselhos, realmente o exemplo é um bom professor!

Quanta saudade eu tenho no peito... gosto muito quanto expresso, por isso a cada dia 25 de setembro eu posto algo sobre meu pai, eu sei que ele nunca vai ler, mas eu gosto de expressar o quanto ele é presente em mim, que ele está vivo no meu coração.

O amor não morre, ele transcende, tempo e espaço!

Saudades eternas, papai!

14 anos

25/09/2020

Gerlane Cavalcante
Enviado por Gerlane Cavalcante em 26/09/2020
Reeditado em 26/09/2020
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