VIAGEM PARA FORTALEZA PARTE 5 – ANTECIPANDO A PARTILHA

Depois do lanche servido, os copos embalagens e guardanapos recolhidos o voo segue normal, até que de repente um sacolejo intenso e o aviso de colocar o sinto foi acionado, a turbulência que estávamos passando era intensa e parecia que o avião havia aterrissado em uma estrada de pedras, do lado de nossa poltrona na outra fileira uma senhora entrou em pânico; gritava, rezava, chorava se agarrava com todos os santos, a cena era desesperadora, quando a turbulência se acalmou imediatamente as comissárias vieram tentar acalmar a senhora que ainda gritava.

Confesso que também senti um pouco ou um muito de medo, não só eu como acredito que a maioria dos passageiros que estavam naquele voo, não sei se pelo trauma de a menos de um mês um avião da mesma companhia ter se chocado com um jatinho em voo e ao perder parte de uma das asas, caiu levando a óbito todos os 154 passageiros e tripulantes.

Assim como eu, a senhora não havia comido o biscoito servido no lanche, e no momento da turbulência seu pacotinho caiu no corredor ao meu lado, não vi quando caiu só sei que me abaixei, peguei e coloquei no bolso de minha camisa, imaginei ser o meu. Seu Valdemar ao ver guardar o biscoito, olhou para mim e deu aquele sorriso sarcástico e disse:

- Meu filho, deixe pelo menos a senhora morrer pra pegar o biscoito dela.

E me entregando o pacotinho de biscoito disse:

- O seu está aqui, eu peguei para não cair.

Foi hercúleo o esforço que fiz para não rir, pois naquela situação poderiam pensar que eu estaria rindo da senhora desesperada.

Ao chegar no Ceará, passei pela senhora do pânico na ponte de desembarque que dá acesso ao aeroporto, ela coincidentemente estava vindo da cidade onde moro, e perguntei se estava tudo bem com ela; me olhou dos pés à cabeça e com um sorriso meio sem graça e com aquela fala bem nordestina me disse:

- Rapaz, eu tô vindo lá de Roraima, minha fia mora lá e fui conhecer meu netim, mas vou lhe falar uma coisa bem aqui, eu posso até inda ir por lá, mas vou no lombo dum jumento mas não entro mas dentro dum troço desses!