ISAURA
 
Esqueci-me de viver, e uma tristeza lânguida envolveu-me então, não me sentia feliz, apenas tensamente comovida, curei imediatamente a dor da melhor maneira que me foi possível.
Disse sentir-me feliz, mas, era tudo mentira. Continuava triste e angustiada, falei assim só para agradá-lo, ficaram contente com minha opinião, porque assim seria mais fácil me verem sorrindo do que chorando.
Se todas as vezes eu soubesse lidar com os sentimentos mais duros e cruéis, como se nada me doesse, talvez não choraria e nem sentia tanto a dor que me acabrunha a cada instante.
Que ideias brocas estas minhas? Tentar enxergar a vida de ser bem vivida, quando no fundo tudo é angustia, fingir viver em outro mundo, se não no meu mundo triste, obsceno e de ilusão.
Qual seria essa emoção desconhecida, do prazer em vez de dor se eu o conhecesse?
Quando finalmente isso acontecer, eu não os reconhecerei. Tudo isso me entristece, pois sou uma senhora prudente, tudo sonho, nada realizo.
Não quero deixar ninguém perceber o vazio de minha vida e não quero que ninguém tenha dó de mim. Prefiro ser considerada como ser uma mulher tola ou louca, desagradável até para meus próprios filhos.
Lembro-me ainda da frase dos meus pais “você desse jeito torna-se uma pessoa amarga e desagradável”. Não sei mais o que é ser feliz nem o que é amor, pois se todos que tive, foram juntos com os meus sonhos, ao léu no tropel do vento, ou até mesmo no esquecimento. Só ficou em mim a amargura, o fel do tempo, a desconfiança, o nada.
Os meus sonhos foram como meus castelos, construídos no tempo, no vento, no espaço se desintegraram, como o vento, como as nuvens, como as espumas das águas nos mares.
 
 
Macapá-AP, 02/02/2021
Por: Bert Noleto
Memorias da juventude de minha mãe
Isaura Sousa Brito (autora)
 
ISAURA SOUSA BRITO
Enviado por Bert Noleto em 02/02/2021
Reeditado em 17/04/2021
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