“Que Vida”!


Era apenas uma jovem pobre do interior.
Tinha uma família, vivia alegre, corria nos
campos, cuidava das criações e ajudava 
meus pais.


 
O destino barrou tudo de uma só vez.
 
Quantas mulheres lamentando como eu, a impaciência dos primeiros tempos de vida conjugal! Cada dia que passa, mais me compenetro de que se eu não fosse tímida e inexperiente a princípio e sentisse, ao menos alguma afeição por (....) nossas vidas teriam seguido um rumo bem diferente, e agora é tarde! Deixarei o barco correr.
Pois eu levo uma vida de completo sofrimento. Meu marido tinha ideias muito diferentes das minhas. Tem um temperamento muito oposto, não se preocupa com suas obrigações. É totalmente desinteressado por dias melhores. Detesta o trabalho, adora a ignorância, persiste em seus ciúmes doentio, inventa história absurda ao meu comportamento, me massacra como pode, me aterroriza com suas ameaças, me faz sofrer a toda prova.
É impossível eu amá-lo ou até mesmo compreendê-lo, não consigo sentir esse sentimento que os poetas chamam de amor, e dizem que ele canta em torno do mundo do qual o mundo gira, nada sei, nunca o senti.
Exclamo, chamando-me a realidade. Em que mundo eu vivo? Em que penso? O que pensa ele? Sentado aí e a fitar-me com esses olhos grandes e amarelados? O que está tramando desta vez? Fala criatura, o que espera da vida?
"Eu estava pensando se você, aos dezessete anos, se tivesse casado com outro homem, ao invés de mim. Talvez fosse feliz. Mas me contento em te ver triste e infeliz. Só assim, não vai sair por aí, sorrindo, cantando, balançando as ancas como uma desavergonhada, que se acha bonita e contente. Ao menos isto tu não tens, que é alegria. Quero te ver na roça arrastando enxada, quebrando coco, pilando arroz, cortando lenha, enquanto tu trabalha eu descanso, pois só assim tua beleza acaba. Ou pensa que eu sou tolo? Não vejo como os homens te olham, quando passa, mesmo maltrapilha com um cocho na cabeça, todos se voltam para teu lado. Eu fico um bicho. Se eu deixasse tu a vontade, sei que ia acontecer brigas horríveis entre nós, mais aqui quem fala mais alto é minha pistola que dorme no tamborete ao meu lado. Se pensar besteira eu sei e te mato, ninguém fica sabendo que fui eu.”
Os dias e anos vão se passando, eu ficando cada vez mais sem medo dele, criei coragem para enfrenta-lo, em uma vez que tentou me bater e apanhou. Criei coragem para lhe desafiar quantas vezes fosse preciso. Até que chegamos a um ponto final.
Durante 13 anos e 6 meses de casamento, sofri de tudo um pouco. Morei em 36 lugares diferentes, nunca tive uma casinha por menor que fosse, mudávamos duas ou três vezes por ano de um local para outro, nos piores casebres dos amigos de nossos pais que tinha pena de mim e davam para nós morarmos.

Macapá-AP, 03/02/2021
Por Bert Noleto

 
Memorias da juventude de minha mãe
criado por: Isaura Sousa Brito
OBS* Encontrado em cartas antigas
ISAURA SOUSA BRITO
Enviado por Bert Noleto em 03/02/2021
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