Março de 1965: um homem me despertou a vida.
Março de 1965: o mesmo homem me ensinou a amar.
Novembro de 1966: me fiz mulher, senti-me livre para amar.
 
 
Foi aí que iniciou-se um grande romance:
 
Todos queriam barra-lo, todos queriam impedir-me de ser feliz outra vez, de conhecer a força do amor, o desejo do sexo.
Nada me impediu, fui firme, lutei contra tudo e todos, rasguei as páginas dos preconceitos familiares, desobedeci as leis do matrimonio, criei uma barreira entre mim e a sociedade, tornei-me ovelha negra da família, sujei o nome de todos que se diziam puros, dei a volta e segui de cabeça erguida, com o troféu que eu queria com a carta do jogo que eu a escolhi com os espinhos que plantei, com a dor que contraí, com o meu fardo insegura com meu entusiasmo medroso e em fim segui o caminho que eu mesmo construí.
Lutei contra uma maré pesada em busca de um porto que me fosse seguro.
De seleiro onde eu pudesse colher o pequeno trigo que já havia semeado e estava prestes a se estragar por falta de colheita.
Não só por mim fiz tudo isto e sim por quatro grãos de trigo que havia nascido no meu canteiro e estava crescendo xoxos, murchando antes de amadurecer, sem celeiro como já falei, sem paiol, sem fardo. Eram quatro crianças que não pediram para vir ao mundo, e sim vieram por um simples casamento mal amoldado e traçado por linhas tortas.
Amei a esta criatura que não mencionei o nome para não ferir alguém....
Mesmo sabendo que estava errada não queria concertos, segui sem me importar de ferir alguém. O que eu queria era viver, amar e ser amada, me sentir gente, pois nunca tinha me sentido mulher, sim um lixo, uma bruxa nas noites de lua cheia.
A revolta de tudo que havia sofrido me dava força para a traição que eu estava fazendo a quem quer que fosse.
 O que me interessava era o grande amor que eu estava vivendo ao lado do homem que havia me descoberto. Ele era belo, seus olhos e cabelos escuros, voz meiga, corpo quente, alma afiada para o amor.
Lutamos muito, ferimos a todos, só nos importávamos “nós o resto do mundo que se danasse.
Foi assim, vários meses de amor e aflição. Até que um dia eu resolvi deixar tudo e partir, dar tempo ao tempo, pensando que o mesmo iria me seguir, tudo mudou, não só eu, mas sim tudo, fiquei mais distante, mesmo assim as pessoas não nos esqueceram.
O tempo que se encarregou de distanciar os fatos, veio a nos fazer acostumar longe um do outro, mesmo assim, fazendo de vez em quando nos encontrarmos e vivermos o mesmo afeto, repetindo tudo de novo. Amor, saudade, boatos e enfim tudo.
Foi muito bonito, iniciou-se aí a minha liberdade para a caminhada da colheita do “trigo”.6 Moças e moços, se formaram e são senhores de si.
Eu, ovelha velha!
 
 
Macapá-AP, 03/02/2021
Por: Bert Noleto
Memorias da juventude de minha mãe
Isaura Sousa Brito (autora)
ISAURA SOUSA BRITO
Enviado por Bert Noleto em 03/02/2021
Reeditado em 17/04/2021
Código do texto: T7175435
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