HISTORIA DE NOSSO FUSCA PARTE 1 - O PRIMEIRO CARRO A GENTE NUNCA ESQUECE

Sem dúvidas este talvez fosse o maior desejo de consumo da classe média-baixa e baixa dos anos 60,70 e 80, e foi o carro que embalou os sonhos de pais em planos de passeios e viagens com a família.

Refiro-me ao velho fusca, que ainda desperta desejos de colecionadores e participantes de clubes do besourão mais querido.

Como não poderia ser diferente, este foi o primeiro carro de meu pai e tambem de minha irmã. Não sei quanto custou nem como adquiriu, o que sei é que comprou de um senhor que era proprietário de uma beneficiadora de arroz, que ficava próximo a nossa casa.

Ele poderia até não ser o melhor de nossa cidade, mas a cor era única, até hoje penso em comprar um fusca e pintar com aquela cor, um amarelo quase laranja bem cítrico e presença, para melhor descrever seria como a cor predominante das caixas de chocolates da Garoto, o carro tinha um brilho muito intenso que se destacava até sujo.

Nesse tempo nossa família eram, meu pai, minha mãe e mais cinco filhos, sete pessoas em um carro que não me recordo se pelo menos cinco cintos de segurança haviam, o que me lembro é que tinham duas alças nas colunas da porta. Se fosse nos tempos de hoje onde há fiscais de trânsitos em toda esquina, estaria cometendo infração e recebendo uma multa a cada passeio, talvez tivéssemos que fazer rodizio dos filhos que iriam ficar.

Nos fins de semana, sempre que chegávamos da missa, todos se preparavam para curtir um igarapé, íamos para um balneário chamado água boa, até hoje não vejo outro nome que pudessem dar para aquele banho, porque realmente a água era cristalina e boa. Minha mãe preparava aquilo que meu pai chamava de erbança, até então nunca encontrei o significado desta palavra, a erbança era uma bacia de plástico redonda e de tamanho médio, com todo o nosso almoço, tudo junto e misturado; - e os pratos? A bacia era o prato, na hora do almoço, a família procurava a sombra de uma arvore, todos sentávamos ao redor da erbança, a única coisa que as vezes ainda era entregue a cada um, seria a colher. Me recordo seu Valdemar ou a mãe dizer:

- Olha a consciência que tem mistura pra todos!

Talvez a única vez que o carro não chegou até o banho, foi quando seu Valdemar resolveu trocar todo o mangueiro de gasolina que saia do tanque na frente do carro até o carburador no motor que ficava atrás, aquele mangueiro passava por baixo do carpete e também por baixo do banco trazeiro.

Aconteceu mais ou menos assim.

Quando estávamos todos dentro do fusca, ele deu a partida e começamos a viagem, o carro não andou mas que dois quilômetros dos 18 que ainda tínhamos que percorrer e parou; desce todo mundo para empurrar, nada disso não será preciso empurrar, seu Valdemar constatou que o problema não era a partida do carro e sim gasolina, mexe daqui, assopra dali e vamos tentar de novo, o carro pegou da segunda tentativa, entra todo mundo e vamos em bora, mas uns dois a três quilômetros e o carro novamente parou, desce todo mundo e o problema é o mesmo, depois dos mesmos procedimentos, agora é só dá na partida e novamente o carro pega na segunda tentativa, foi ai que seu Valdemar disse:

- Se é da gente fica no prego, mas longe, vamos retornar para casa e acabou o banho.

O carro ainda parou mais uma vez no percurso até em casa, e chegando lá seu Valdemar foi fazer aquela vistoria geral no que podia ter sido aquela pane, e depois de muito fuçar que nem se diz no popular, usando técnicas e requintes de curiosidade, eis que foi desvendado o problema, na hora meu pai não sabia se ria ou ficava puto. O problema foi causado pelo mecânico que trocou a mangueira, colocando em baixo da haste de ferro que sustenta o banco traseiro, e com o peso da família, a haste imprensava o mangueiro no assoalho e obstruía a passagem da gasolina.

Nossa família era grande e ainda viriam, mas duas para completar, de lá para cá perdemos uma irmã, um irmão e também nossa mãe, acredito que mesmo com um a menos, hoje não caberíamos no fusca pois estamos mais volumosos.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 03/02/2021
Reeditado em 16/07/2023
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