FALANDO SOBRE O PADRE LUIZ TURKENBURG
Em 20 de julho de 2024, houve um encontro de ex-seminaristas do Seminário Nossa Senhora de Fátima. Realizou-se em Itaúna, Minas Gerais, no prédio do Colégio Santana, com a presença de um número razoável de companheiros. Na oportunidade, a lembrança do Padre Luiz foi muito comentada e eu, por ter tido uma grande afinidade com ele, resolvi fazer este texto.
Ouvimos muitas histórias a respeito do saudoso padre Luiz, com as quais todos nós nos emocionamos . Eu assisti também a um vídeo no You Tube, através do qual pessoas do bairro Padre Eustáquio, em Itaúna, Minas Gerais, da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, da qual ele foi pároco, deram depoimentos extraordinários sobre seu trabalho tão dignificante, no período em que lá esteve. Até que culminou com sua morte ocorrida na década de 90, trazendo muita tristeza para todos os paroquianos itaunenses. Uma doença grave o acometeu ceifando sua vida. Mesmo doente, trabalhou por algum tempo. Quando estava enfermo, saí de Belo Horizonte e fui visitá-lo, no bairro Padre Eustáquio, oportunidade em que fiquei muito comovido.
Tive o privilégio de conviver com ele, durante três anos, no seminário Nossa Senhora de Fátima, em Itaúna, nos anos de 1961 a 1963. Era menino. Em meus 11 a 14 anos. Tenho muitas lembranças boas para contar e não poderia deixar de registrá-las aqui neste pequeno texto. Sei que ele foi sempre carinhoso para com todos nós. Vamos lá então.
Começando com uma delas, lembro-me de que os padres, acho que hoje, não mais, tinham que celebrar uma missa, diariamente, mesmo que não houvesse a presença de fiéis. Naquele tempo, a missa ainda era pronunciada em latim. Sabe o que acontecia? Os padres iam ao dormitório, dirigiam-se à cama de um de nós, umas 5 horas da manhã, ainda escuro, de madrugada, e chamavam-nos para que fôssemos o coroinha da celebração. Não foram poucas as vezes que o padre Luiz me chamara para ajudá-lo. Mesmo, com muito sono, depressa, me levantava, trocava de roupa, escovava os dentes e corria para a capela. Auxiliava-o a colocar os paramentos e, todo feliz, fazia o honroso trabalho. Imaginem que saudade eu tenho desses momentos. Ah, não era somente o padre Luiz que tinha esse costume. Outros padres também faziam o mesmo.
Prosseguindo, lembro-me, também, que o protagonista deste texto, foi meu professor de Inglês e Matemática. Aprendi muito a língua inglesa com ele. Certa vez, ele aplicou uma prova de Matemática - Expressões Numéricas. Comecei a fazer. Tive uma dificuldade grande. Coisa de menino... comecei a chorar. O padre Luiz, aquele homem "grandão", tinha um coração muito frágil. Sentiu pena de mim. Chegou perto e perguntou o que estava acontecendo. Respondi que não estava dando conta. Ele simplesmente me disse para ficar calmo e que fizesse o possível. Fiquei tranquilo. Sei que não conseguira completar as questões e encontrar o resultado. Foram cinco questões, lembro-me bem. Quando ele entregou a prova corrigida, alguns dias depois, achei que tinhado tirado zero. Ele considerou o raciocínio até o ponto em que cheguei em cada expressão, e tirei seis e meio. Claro que não merecia. Ele, simplesmente, deixou que o coração falasse mais alto. Não me esqueço.
O padre Luiz tinha um carinho especial para comigo, tenho certeza disso. Certo dia, ele me chamou, juntamente com outros companheiros, para irmos ao bairro padre Eustáquio, onde celebrava. Fomos a pé. Não havia ainda a nova paróquia Nossa Senhora de Fátima construída por ele. Mas, sim, uma capela. Perto do altar, vi uma imagem, quebrada, do Sagrado Coração de Jesus. De um lado a cabeça. Do outro o corpo. Recolhi as duas partes e perguntei a ele se poderia ficar para mim e levar para mamãe. Ele concordou. Quando estive em Belo Horizonte, de férias, mostrei à minha mãe, muito devota, e ela pediu a um vizinho, restaurador de imagens, que fizesse o trabalho. O Sagrado Coração de Jesus ficou com minha mãe, todo novinho, até o fim de seus dias, em 2007. Minha irmã herdou a imagem. Infelizmente, deixou quebrar e se desfez para sempre. Lembrando-se do fato, ela adquiriu uma imagem nova e me presenteou no dia de meu aniversário, em 2024 último.
Padre Luiz, à tardinha, costumava pegar uma motocicleta, "grandona", Java, lá nos fundos do prédio do seminário, perto da pedreira, a fim de sair para celebrar a missa no bairro Padre Eustáquio. Ele chegava para mim e dizia: “Luizinho, vamos ali comigo. Você monta na garupa da motocicleta, abre o portão para mim, eu saio, depois você fecha, tá bom?”. Pergunte para mim se eu ficava todo alegre com isso? Não foram poucas as vezes.
Embora tenha mais histórias para contar, vou narrar somente mais esta. Voltando das férias de casa, em julho, ao abrir meu armarinho, no dormitório, achei algumas coisas que não reconheci serem minhas. Uma escova de roupas, vários selos da França (tenho-os até hoje), alguns cartões postais etc. Em um cartão postal havia uma identificação de alguém que o havia enviado a ele. Imediatamente o procurei e perguntei por que aqueles objetos estavam em meu armarinho. Ele me disse: “Deixei de presente para você.” Respondi, todo satisfeito. “Obrigado, então!”
Para fechar este texto, agradeço a meu leitor pela paciência. Mas quero deixar aqui registrada a minha alegria de ter convivido com o Padre Luiz, durante três anos de minha vida. Um homem extraordinário, honrado, que fez o bem para tantas pessoas, deixando exemplos de humildade e amor para com os mais pobres. As pessoas de Itaúna que o conheceram sabem o quanto ele era bom e generoso, e eu tenho certeza disso pois eu também o conheci e sabia de suas qualidades. Tenho imensa saudade dele. Estou certo de que Deus lhe ofereceu um lugar muito especial no paraíso e, lá, está descansando em paz.