Elegia Para Um Homem de Terra e Céu

Morre Francisco, o pastor de passos lentos,

Morre um irmão que carregou o vento

Nas dobras do manto, no verso do sermão.

Morre o filho das ruas de Flores,

O tango da alma em preces e dores,

Morre um nome, mas nasce uma canção.

Jorge Mario Bergoglio — raiz no asfalto,

Sangue de córdoba, mapuche e alto

Céu da Pampa misturado à cruz.

Levou o frio das noites nos becos,

Beijou os pés dos esquecidos, secos

De fome, de guerra, de ausência de luz.

**Morre o comunista (dizem), o herege,

O que ousou lavar a ferida do altar**

E trocou o púrpura pelo barro.

Morre o humano, demasiado humano,

Que soprou brasas num mundo gelado,

Morre o corpo, mas não o seu farol.

Leva contigo o cheiro dos subúrbios,

O vinho humilde, os pães sem culto,

As chaves que abriram portas ao mar.

E enquanto o Vaticano tece teu mito,

Tu voltas ao pó, simples e infinito:

Um homem, um nome, um respirar.

Da eternidade que te espera, aberta,

Olharás a Terra — tua casa certa —

E sorrirás, sem mágoa, sem paixão.

Pois na morte és semente enterrada:

Francisco, Hermano, voz calada

Que o mundo, em silêncio, guardará na mão.