PASCOAL, O PRÍNCIPE

Escolhi algumas passagens em seu discurso de posse na Cadeira número 11 do MAC _ Movimento de Apoio Cultural Dr. Antônio Garcia Filho, da Academia Sergipana de Letras. O patrono da mencionada Cadeira, o sergipano José Bonifácio Fortes, merece um representante da qualidade do advogado e jornalista Domingos Pascoal de Melo.

Antes de mencionar seu texto, digo-lhe que, de uma coisa tenha certeza, Pascoal, a memória desse Imortal foi prestigiada de forma competente e digna em sua peça oratória. O movimento cultural aninhado entre os Acadêmicos sergipanos viveu um momento de prestígio na solenidade realizada no dia 21 de fevereiro de 2008, na Biblioteca Pública Epiphânio Dória. Fomos iluminados por dois poderosos holofotes, o segundo, consubstanciado na palavra do Dr. Marcos Almeida, Imortal da Academia Sergipana de Medicina, seu recipiendário e companheiro nas reflexões e produções culturais.

Todos os textos promovem momentos de maior ou menor intensidade, a depender de quem os lê, ouve, vê. Os parentes de Bonifácio Fortes devem ter sido tocados no mais profundo de seu íntimo. Os estudiosos de textos lançam um olhar mais crítico, mais exigente. Os jovens se apegam mais ao som produzido por palavras bem colocadas em discursos. Os historiadores conferem as informações, levantam questionamentos, e assim por diante. Você conseguiu ultrapassar totalmente as expectativas de quem presenciou a sua manifestação.

Nunca vi pessoa alguma discursar com um tom terno, carinhoso e ao mesmo tempo seguro e coordenado do jeito que você fez. O “bom orgulho” ao qual se referiu teve seu dia de glória, passeou , desfilou pelos tapetes vermelhos do salão nobre da biblioteca sergipana. Faço minhas outras suas palavras: “...com certeza, nesta noite e neste momento, eu desembarco numa estação de muita felicidade”.

Mais feliz fiquei quando notei no seu texto o tom de prosa poética e quando o vi prestigiar a poesia, “Porque a poesia, senhores e senhoras, é a matriz das ressurreições. Ela restaura ruínas e as coloca reedificadas em nossos corações. Em certos momentos, a vida não nos basta, e precisamos desse suplemento de existência. Ela supre nosso déficit de beleza. A poesia desenha o mundo como ele deveria ser, assume um status de crítica da existência”.

Graças a Deus, Pascoal, contamos com anjos como você para trabalhar na arrumação e na tentativa de salvação de uma sociedade injusta e desigual cuja “... trama (...) tecida pelas fibras da chamada atribulação moderna força-nos a ir abandonando pelos caminhos os nossos valores, a nossa cultura, as nossas raízes”.

O seu texto se agigantou no momento em que o orador, mesmo ciente de sua inteligência, se ajoelhou e se humilhou dizendo em um golpe de mestre do estilo: “Sem os requisitos dos críticos mais argutos, fiz-me empiricamente poroso, para me deixar invadir dos influxos mais salutares advindos de sua pedagógica biografia, de sua cristalina prosa e de sua comovente poesia”, referindo-se à obra de Bonifácio Fortes.

Você dominou, como um estratégico Napoleão das letras, acertou em cheio a alma apaixonada do sergipano, acrescentando chegar a sentir saudade da Aracaju que nunca viu. E como um verdadeiro cavalheiro, se pôs de joelhos frente à sua amada Aracaju e prometeu esforço e dedicação, trabalho e empenho para suprir lacunas de competência, conteúdo e inteligência. Imagine só que perfeito galanteio! Pascoal retirou o manto de príncipe e o lançou aos pés de sua amada e subjugada Aracaju, para que ela passasse e se sentisse a eleita.

Para completar e deixar a todos extasiados, o grande conquistador afirmou temer os “...valores intelectuais, individuais e coletivos presentes neste ambiente sagrado. Eu estou ansioso para aprender com vocês”.

Eu estou é com medo de todo esse potencial e extremo fascínio. Agora preciso de mais esforço e dedicação para poder dizer que sou sua colega de MAC, Pascoal.

No final de sua oração, Pascoal desferiu o golpe de misericórdia e pediu “...humildemente um abrigo”. A casa é sua, fique à vontade Pascoal. Eu me sinto mais pobre e peço a você que não olhe a desarrumação. Pode sentar no sofá, é velhinho, mas está limpinho. Espere até eu fazer um café e trazer um pouco de água do filtro.