RAINER MARIA RILKE

Hoje quero fazer algo diferente... Assim, resolvi fazer uma homenagem a um grande escritor de minha descendência... RAINER MARIA RILKE.

Rilke nasceu em Praga, em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.

Penso que está na hora de alguns Recantistas o conhecerem. Assim, decidi trazer algumas traduções de sua obra... Espero que gostem.

Tânia Regina Voigt

1- O TORSO ARCAICO DE APOLO

Não conhecemos sua cabeça inaudita

Onde as pupilas amadureciam. Mas

Seu torso brilha ainda como um candelabro

No qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado

Detém-se e brilha. Do contrário não poderia

Seu mamilo cegar-te e nem à leve curva

Dos rins poderia chegar um sorriso

Até aquele centro, donde o sexo pendia.

De outro modo erger-se-ia esta pedra breve e mutilada

Sob a queda translúcida dos ombros.

E não tremeria assim, como pele selvagem.

E nem explodiria para além de todas as fronteiras

Tal como uma estrela. Pois nela não há lugar

Que não te mire: precisas mudar de vida.

(Tradução: Paulo Quintela)

2- _ QUE FARÁS TU, MEU DEUS, SE EU PERECER?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Eu sou o teu vaso - e se me quebro?

Eu sou tua água - e se apodreço?

Sou tua roupa e teu trabalho

Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar

Onde as palavras ardentes te saúdem.

Dos teus pés cansados cairão

As sandálias que sou.

Perderás tua ampla túnica.

Teu olhar que em minhas pálpebras,

Como num travesseiro,

Ardentemente recebo,

Virá me procurar por largo tempo

E se deitará, na hora do crepúsculo,

No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.

(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

3- HORA GRAVE

Quem agora chora em algum lugar do mundo,

Sem razão chora no mundo,

Chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,

Sem razão ri dentro da noite,

Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,

Sem razão caminha no mundo,

Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,

Sem razão morre no mundo,

Olha para mim.

(Tradução: Paulo Plínio Abreu)

4- MORGUE

Estão prontos, ali, como a esperar

que um gesto só, ainda que tardio,

possa reconciliar com tanto frio

os corpos e um ao outro harmonizar;

como se algo faltasse para o fim.

Que nome no seu bolso já vazio

há por achar? Alguém procura, enfim,

enxugar dos seus lábios o fastio:

em vão; eles só ficam mais polidos.

A barba está mais dura, todavia

ficou mais limpa ao toque do vigia,

para não repugnar o circunstante.

Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,

olham só para dentro, doravante.

(Tradução: Augusto de Campos)

5- SÃO SEBASTIÃO

Como alguém que jazesse, está de pé,

sustentado por sua grande fé.

Como mãe que amamenta, a tudo alheia,

grinalda que a si mesma se cerceia.

E as setas chegam: de espaço em espaço,

como se de seu corpo desferidas,

tremendo em suas pontas soltas de aço.

Mas ele ri, incólume, às feridas.

Num só passo a tristeza sobrevém

e em seus olhos desnudos se detém,

até que a neguem, como bagatela,

e como se poupassem com desdém

os destrutores de uma coisa bela.

(Tradução: Augusto de Campos)