SENHORA DONA DO BAILE. Zélia Gattai

Talvez o fato mais importante na vida da escritora Zélia Gattai tenha sido casar com Jorge Amado. Na visão dela, claro. Eles eram apaixonados e viveram cinqüenta e seis anos juntos.

Durante a maior parte de sua vida Zélia assessorou Jorge. Ela revisava e datilografa seus textos e até dirigia para o escritor.

Zélia começou a escrever as suas memórias aos 63 anos. E passamos a conhecer Zélia, sua família italiana, Lalu, a sogra engraçada, James e Joelson, irmãos de Jorge, João Carlos (filho de seu primeiro casamento), Paloma e João Paulo, seus filhos com Jorge.

A rica vida de Zélia Gattai foi sendo narrada a partir de Anarquistas, Graças a Deus, livro em que ela relata sua infância e adolescência em São Paulo, as alegrias e dificuldades da família italiana, estas principalmente depois que o Brasil juntou-se aos aliados na Segunda Guerra Mundial.

Em Um Chapéu para a Viagem, começa a aventura de Zélia e Jorge pelo mundo. Jorge, o deputado comunista vai ao exílio e Zélia com ele. Amei conhecer através das memórias dela, Paris, Praga, União Soviética e tantos outros paises, alguns que nem lembro agora.

Nessa época Jorge Amado chegou a defender Stálin, tendo depois se arrependido quando a verdade veio à tona.

A escritora também fala da amizade do casal com Pablo Neruda, Sartre, Simonne, Caribé, Picasso entre outras personalidades.

A Senhora Dona do Baile, volta ao Brasil e continua sua vida ao lado do escritor mais célebre do Brasil.,"Jorge", seu amor maior.

Li com uma doce gratificação as memórias de Zélia Gattai. Vibrei com a eleição dela para ocupar a vaga do marido na Academia Brasileira de Letras, ainda que metidos intelectuais a esnobassem. Zélia contou e contou muito bem a vida de dois grandes escritores, descrevendo com precisão o cenário mundial da época em que viveram.

Quem leu A Casa do Rio Vermelho e Código de Família, sentiu-se íntimo da família Amado. Descobriu que Zélia e Jorge adoravam as novelas das oito, por exemplo. Que tinham hábitos comuns e que se amavam muito.

Zélia era uma simpatia. Eu gostava de ler Zélia tanto quanto adorava ouvir suas entrevistas. Era um prazer ver aqueles dois juntos.

Jorge morreu e Zélia morreu um pouco com ele, mas ainda teve fôlego para terminar a obra conjunta, embora literariamente diferente. Morro de saudade dos dois, mas conforta-me seus livros para releituras e para matar essa saudade.

Quanto a eles? Logo estarão no jardim da Casa do Rio Vermelho , e , quem sabe em outra vida, pois segundo Paloma, filha dos dois, seu pai repetia sempre que "o materialismo" não o limitava."

EVELYNE FURTADO.

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Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 19/05/2008
Reeditado em 11/09/2010
Código do texto: T996272
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