O HIPOCONDRÍACO

Molière abordou esse personagem em “O Doente Imaginário”.

Esse personagem continua vivo ainda e como!!!

Sua doença começa com um espirro alérgico ou de um choque térmico. Vem a coriza e ele faz questão de fungar para mostrar a todos que a coisa não vai bem, evolui em sua cabeça para uma gripe, talvez até uma gripe aviária, ou um início de pneumonia e no galope de sua imaginação, vai até uma pneumonia galopante. E lá vai ele para a vitamina C, mas pelo estado grave, está já não resolve, juntando-se a ela um antiinflamatório e um antibiótico, a princípio via oral, mas para se precaver e ser mais rápido e eficaz, vai a farmácia tomar uma injeção. Depois o pneumologista é consultado com um prazer que se espelha em toda a sua face, culminando no gozo ao ser encaminhado para o Raio X, espirometria, exame de sangue arterial para detectar uma falha nas trocas gasosas no pulmão.

É com decepção que recebe do médico o laudo negativo:

“Negativo, mas como doutor? Eu me sinto tão mal? Não deu nada, nadinha mesmo?”

Cura sua tristeza quando dois dias depois, vem-lhe um pequeno mal estar estomacal ocasionado pelo excesso de carne gordurosa ingerida na véspera e não digerida.

Primeira providência, sal de fruta fervilhando no copo de água e descendo pela garganta. Mas não para por aí, porque a dor começa a seguir. Gastrite, não, úlcera, úlcera perfurada ou outra coisa pior que pode ser no esôfago, estômago, até duodeno. Ah! E tem ainda aquela tal de hérnia. Não é hérnia de disco. Não, essa é na coluna vertebral. Como se chama? Ah! Hérnia de hiato. Gastroenterologista, aqui vou eu. Que maravilha! A endoscopia. A xilocaína spray na garganta, o valium na veia, e o tubo entrando, descendo e chegando até o duodeno. O material colhido para a biópsia é o cúmulo do prazer... Ah! desta vez não é possível que eu saia sem nada. Ainda tem o ultrassom para ver o funcionamento da vesícula, fígado, rins.

“Os seus exames deram negativos”.

“Não é possível, esse médico está de brincadeira comigo”.

“Tome um antiácido e um digestivo. Evite antiinflamatórios”.

“Pô, como vou fazer sem o antiinflamatório quando tiver dor de garganta?”