A MORTE CHEGOU

O que a vida tem de melhor é o fato de se poder simplificá-la a ponto de não se saber se foi um mal súbito um erro qualquer. Problemas fazem parte do conjunto, do equilíbrio existente no universo, tem o feio como parâmetro para se avaliar o belo, tem o baixo para se dizer o quanto é alto o custo de vida (perdão, mas não poderia perder a oportunidade), e por ai vai. Então olhemos objetivamente as diversas ocasiões onde, simplesmente não fazer nada seria a melhor solução, entretanto o ser humano prefere fazer alguma coisa, aliás, muita coisa, mesmo que prefira sempre as erradas – melhor errar pelo excesso - pois muito bem, melhor é não errar, correto é chegar a alguma coisa certa sem ter inventado novamente a roda. Parece conversa de preguiçoso, “deixar o mundo se acabar em barranco para morrer encostado”, mas não é isso, temos que levar em consideração o pequeno tempo de vida que nos foi dado, setenta e poucos anos em média, não é nada, não é nada, não é nada mesmo. Parece que foi ontem que eu nasci e já estou aqui pensando na aposentadoria, imagina se eu tivesse perdido tempo com documentação para envelhecer, ou carteira de adulto para habilitação ao clube dos experientes, com direito a paquerar meninas com a idade da minha filha mais nova. Que nada, o negócio é viver simplificando, se não for do agrado, deixa a fila andar, pois já está dando volta no quarteirão e olha que ainda é cedo, ainda falta o pessoal do bairro deitar no pedaço. Se faltarem carros, sobram muros de casas abandonadas em meio a escuridão, as pernas tremem, mas ao final o gozo vem do mesmo jeito, afinal, nada como um dia atrás do outro. E se a morte chegar, ora bolas, chegou!