Anticristo

A reunião no inferno prosseguia agitada. Aos berros, Lúcifer exigia que chegassem a um acordo:

_ O Anticristo já era para ter sido enviado no final do século passado! Vocês só ficam discutindo, discutindo...

_ Parece reunión de partido de izquierda! – comentou baixinho um demônio argentino.

_ E não chegam a lugar nenhum! – prosseguiu Lúcifer – Enquanto isto, os homens vão fazendo o nosso trabalho melhor do que a gente. Será que vocês não entendem? Se o homem sozinho for capaz de fazer mais maldades que a gente, o cara lá de cima vai achar que não temos mais função na ordem natural das coisas e tamos ferrados! Temos que mandar logo o anticristo pra acabar com tudo e garantirmos o meu reinado!

_ Mas, chefe, - argumentou um demônio alemão – nós já mandamos o anticristo antes e ele acabou sendo derrotado! E, depois, o mundo evoluiu. Controlar o poder político parece que não basta. Chefe de Estado, hoje em dia, não apita nada. Temos que mandar alguém que tenha poder de verdade para mudar as coisas a nosso favor.

_ Hoje em dia, - sugeriu um demônio brasileiro - quem manda é a imprensa. Vamos mandar um jornalista, um cara que escreva bem e saiba distorcer os fatos e fazer a cabeça das pessoas!

A proposta do brasileiro criou um rebuliço na reunião. Enfim, parece que tinham encontrado a solução para garantir o sucesso do novo anticristo. Só Belzebu tentou se contrapor à proposta do brasileiro, mas ninguém, o levou a sério. Todo mundo na reunião sabia que ele estava levando a coisa para o lado pessoal. Passara a odiar os demônios brasileiros desde que eles o apelidaram de “Boi Zebu”.

_ Nesse caso, - opinou um demônio norte-americano – é bom que ele estude Direito, porque pelo menos no meu país, os advogados também costumam ter muito poder.

_ Jornalista e advogado! Realmente, vocês são uns demônios! – Reclamou Lúcifer, esfregando as mãos. – O mundo não resistirá!

Quando a noticia do que fora resolvido na reunião chegou aos céus, Deus teve um enfarte. Dizem que passou um bom tempo no CTI celestial.

Luiz Lyrio
Enviado por Luiz Lyrio em 27/05/2005
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