(IN)SENSIBILIDADE MASCULINA

Um dia antes de completar cinco anos de casamento, o marido chega em casa depois de um dia normal de trabalho no seu escritório, como faz todos os dias.

Entra na porta e se depara com cinco caixas bonitas, diferentes, postadas a mesa da sala numa organização quase militar mas aomesmo tempo delicada. Na frente das caixas, esta de cor púrpura com um lacinho rosa em formato de flor, está um cartão com os dizeres no envelope: ‘ao homem da minha vida.’

Antes que possa abrir o cartão, numa já previsível curiosidade delicada semelhante a de um hipopótamos à banhar-se em lagoas africanas, ouve-se uma risadinha marota vinda de trás da cortina e sem mesmo ter tempo de discernir quem era, ele recebe um caloroso abraço e beijo da sua adorável e jovem esposa.

Esta pede para ele sentar-se no sofá e explicando que por conta da sua impaciência feminina resolveu adiantar a entrega de seus presentes em um dia. E eram cinco em símbolo dos seus cinco anos de união.

O primeiro um relógio Citizen Titanium Chronograph, em material anti-alergico. A maior novidade da Citizen no momento. O segundo (o da caixa amarela com estampa de flores do campo) era um perfume Giorgio Armani Night importado, 100 ml, finíssimo. O terceiro, um sapato Democrata. Couro legitimo. Bonito e de bom gosto. A quarta caixa azul celeste com detalhes verde água traziam uma linda camisa LaCoste tão linda que o pobre homem não teria na sua vida enfadonha, utilidade para ela, salvo algum casamento ou batizado de sobrinhos. A ultima e mais especial caixa era branca, linda e obviamente a mais aguardada. Continha um par de alianças novo, representando um novo fôlego a relação. Era um atestado do amor da esposa ao marido e também de sua rendição aquele momento tão emblemático.

Pois bem, esta demonstração dedicada e elaborada, praticamente uma demonstração marketeira de um novo conceito publicitário de um produto reinventado... quase comoveu o marido.

Ao menos o fez lembrar que estava na véspera do seu 5° aniversario de casamento, salvando-o de um vexame ou desastre, como queiram.

Ao chegar em casa no outro dia, propositalmente mais cedo a esposa banha-se deliciosamente a espera da grande noite. Mais do que a espera de presentes palpáveis, ela aguarda a demonstração de carinho de seu amado, lembrando-lhe o quanto a quer vê-la feliz. Com trinta minutos de atraso, adentra a porta da casa o nosso herói com uma sacola na mão. Cinco presentes também.

Numa vergonhosa tentativa de plagiar o ato criativo da esposa na noite anterior, retira um a um, explicando (diria eu, tentando se justificar) o significado de cada um deles.

O primeiro, um chaveirinho de pelúcia ganho alguns minutos antes num posto de gasolina após uma lavagem expressa e uma troca de óleo. O segundo presente é uma caneta BIC de quatro cores (azul, preto, vermelho e verde), estilo anos 80 com cartuchos de recarga a R$0,50 cada. Depois a pulseirinha de couro duvidoso, feita por um hippie da esquina do supermercado onde ele comprou o 4° presente: um VHS (isso mesmo, um VHS e não um DVD) com os “50 Melhores Truques de Mágica para Iniciantes”. E por ultimo, advinda do Carrefour uma bela sandália havaiana Top da Gisele Bunchen, vermelha com uma florzinha branca no centro da sola do pé.

- Gostou? pergunta o maridão.

- É... são bons... Gostei da pulseirinha – diz, sem conseguir esconder muito a sua decepção.

Satisfeito com a resposta da esposa o marido dá-lhe um abraço de urso, mais ou menos igual ao abraço que o centroavante reserva dá no treinador após entrar em campo e fazer um gol de cabeça e em impedimento aos 43 do segundo tempo, salvando o seu time do rebaixamento a série B.

Mas, num acesso de sensibilidade, percebendo que algo estava errado, ainda meio contrariado ele pergunta:

- Amor, você não gostou de algum dos presentes?

- Olha, desculpa ser sincera, mas já que você pediu ... bem, eu esperava um pouco mais. Mas, tudo bem, esquece, coisa de mulher sentimental.... diz a esposa retirando os brincos.

- Nossa!! Esperava mais??!!

- É, esperava sim? O que você achava que eu iria dizer? ‘Ó que linda essa sacolinha do Carrefour que serviu de pacote de presente?? Diz, já impaciente diante de tamanha burrice.

- Poxa, então quer dizer que você mede o que sinto por você pelo valor dos meus presentes?

- É claro que não, mas...

- Mas, o que?? Hein!!

- Ahh, isso é ridículo, nenhum dos seus presentes custou mais que ... sei lá...R$10,00!! É só isso que o nosso casamento vale pra você?

- Tudo bem, eu sei que não é R$ 107,80 como a camisa que você me deu. Diz o marido num surto irônico.

- O que? Que absurdo! Você foi procurar na loja quanto custaram os presentes que te dei com tanto carinho?

- Claro! Eu queria saber por quanto você estava tentando me comprar, sua insensível!!

Martins Filho
Enviado por Martins Filho em 27/05/2005
Código do texto: T20064