Invenções de Epaminondas

O Sr. Epaminondas é um sujeito comum. De idade já um tanto avançada, barriga proeminente, farto bigode, cabelo ralo e com mania de bancar o inventor.

Certo dia, veio-lhe à cabeça a estranha impressão de que gastava muito tempo com a estressante atividade de alimentar seus dois canários e três periquitos. Não se sabe o motivo, mas vários senhores, depois que se aposentam, adquirem esse estranho vício de encarcerar pássaros.

Sr. Epaminondas não era exceção à regra e tinha por seus emplumados detentos um cuidado de dar inveja à sua pobre esposa, que se limitava apenas a repetir a mesma frase toda vez que estendia roupas no varal, enquanto ele demonstrava seu enorme carinho pelos bichos:

-Você gosta mais desses passarinhos do que de mim! Pede pra eles um chazinho quando você ficar doente. Quero só ver!

Alheio ao torturante falatório, Epaminondas continuava concentrado. Virava o pote do alpiste com uma das mãos e, com a outra, segurava o comedouro. Ao mesmo tempo, segurava a portinha da gaiola com o cotovelo, atento a qualquer intenção de fuga do pássaro e não permitindo que nenhum grão de alpiste fosse ao chão. Cena digna de admiração, não estivesse ele vestindo apenas uma velha samba-canção furada e equilibrando-se sobre um banquinho de madeira quase boa, que ele mesmo fez.

Já fazia um bom tempo que estava bolando um comedouro automático para pássaros. Tinha todo o plano na sua cabeça e, pelo menos aí, tudo parecia perfeito.

Naquele dia, cismou de pôr em prática o tal projeto e foi atrás das peças para a engenhoca. Comprou uns tubos, cola, cerveja (é que fazia um calor danado naquele dia) e mais umas tranqueiras que provavelmente nem ele sabia onde iria encaixar.

Pronto! Agora era pôr mãos à obra. Mas, primeiro, era melhor tomar uma cerveja só para matar a sede. No rosto, o leve sorriso denunciava uma ponta de orgulho pela brilhante idéia. Quem sabe poderia até produzir em grande escala? Precisava registrar a invenção, um empreendedor de sucesso deve estar atento a todos os detalhes... Outra cerveja para comemorar!

Tirou as gaiolas da parede para fazer as medições necessárias e as colocou sobre uma velha mesa no quintal. Ficou ali parado um bom tempo, tomando a terceira cerveja consecutiva, enquanto os pássaros se entreolhavam confusos.

Já sob o efeito da bebida, tentou subir no banquinho (por algum motivo desconhecido), mas este lhe fugiu arisco debaixo dos pés, projetando-o ao chão como uma jaca que cai de madura.

Prostrado de costas e tentando recobrar os sentidos, Epaminondas ouvia a voz de sua esposa ao longe:

-Vê se pára de fazer bagunça no quintal e vai logo colocar o lixo na rua!

E Epaminondas gemia:

-Como é duro ser um empreendedor...

Marcelo Kbral
Enviado por Marcelo Kbral em 27/05/2005
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