Dieta saudável

Recordo-me sempre de uma vez, dona Mundinha deu um melão pra mamãe. Mamãe chegou em casa muito feliz. Cortou o melão em pedaços que davam exatamente uma talhada para cada filho dela, nós éramos sete, portanto em sete pedaços o melão foi dividido.

Todo mundo ficou satisfeito com os pedaços do Melão que ganhou, somente a minha irmã Leninha, que por sinal era uma morta de fome, não se conformou com o seu. E começou a latomia de reclamações.

- Ô, mãe, o do Xavier é maior que o meu!

Saiu comparando o seu pedaço o com o de todo mundo. Medeiu com o de todo mundo, faltou apenas o meu! Ela se aproximou de mim, e disse:

- Me deixa ver se o seu pedaço é maior que o meu?

- Não deixo. – Respondi.

- Eu não quero comer seu pedaço, morto de fome. Só quero medir! – Ela falou bem alterada.

- Morta de fome é você, sua gorda. Rolha de poço. – Respondi mais irado.

Leninha me deu um tapa por cima da cara. O pedaço de melão caiu a uns cinco passos de onde eu tava.

Mamãe que voltava do poço viu toda cena! Horrorizada com as esgalamia da filha, saiu tomando os pedaços de todo mundo. E os colocou sobre a mesa, em seguida ordenou:

- Agora você vai comer todos os pedaços. Onde já se viu uma menina, morta de fome como você?

Todos nós reclamamos, mas não teve jeito. Mamãe a fez comer todos:

- Essa menina é que nem bicho bruto, não sabe se comportar. O povo passa na rua e há de achar que nos estamos é morrendo de fome.

- E nós num estamos mesmo, mãe? Aqui todo mundo passa fome. – Respondeu Leninha, com desaforo.

- Essa menina anda muito desaforada.

Leninha até que ficou satisfeita com o castigo: comer todos os pedaços de melões. Comeu o primeiro. Comeu o segundo. Comeu o terceiro. Mas na metade do quarto pedaço já não agüentava mais. Começou a fazer cara feia. No quinto pedaço do melão a pobrezinha já começava a se sentir mal, iniciou a reclamação:

- Já está bom, minha mãezinha! Eu não quero mais!

- Você vai comer tudo pra você aprender a ficar de olho gordo na comida alheia.

Mamãe entrou no quarto, pegou um cinto velho do papai, voltou até onde tava a comilona e disse:

- Se não comer tudo vou te dar um pisa com esse cinto. Olha que vou bater com o sinto do lado da fivela.

Leninha fez uma cara de quem comeu e não gostou. E mais uma abocanhada no velho melão. No sexto pedaço a barriga parecia que não ia mais aguentar nada.

- Ai mãe. Eu não aguento mais! – Pediu ela, sufocada de tão cheia.

Maria Bethânia, nossa irmão mais velha, ficou com tanta pena da menina, que logo intercedeu por ela:

- Ô, maizinha, deixa a bichinha. Ela já deve não aguentar mais. Com certeza aprendeu a lição.

- Fique quieta você também. Ela vai comer é tudo.

Mamãe não ia perdoar. A pobrezinha falou que já tinha se arrependido da gula. Mas mamãe não se arrependia de uma decisão, ela ia até o fim e enquanto os oito pedaços de melão não fossem descidos goela a baixo, ela não sairia de vigília da Leninha.

Todo mundo já estava com pena da pobrezinha, coitada, já estava com olhos estufados, querendo passar mal. Comia fazendo careta. Era um mastigado já desajeitado! E mais um pedaço do melão se foi. O penúltimo pedaço foi o suficiente para a pobrezinha dar um branco e cair desmaiada.

- Ai meu Deus, ela vai morrer! – Exclamou Xavier, outro irmão.

- Morre nada! E se morrer, vai morrer feliz porque está de barriga cheia. – Respondeu mamãe. Ela enrolou o cinto no braço e saiu.

E como mamãe falara, ela não morreu mesmo. Passou horas sem poder falar e dias muito triste, mas não morreu. Certo que ganhou um trauma terrível de melão. Até hoje nunca mais colocou um pedacinho sequer da fruta na boca. E tão pouco gostava da musica de roda De abóbora faz melão, de melão faz melancia... faz doce sinhá, faz doce sinhá!