Nomes
Gurupá, 20 de junho de 2005.
Era um domingo bonito, perfeito para um batizado. Fui à igreja no intuito de cumprir esse sacramento do catolicismo como candidato chapa-branca para padrinho da filha de meu cunhado. Enfrento de cara uma fila enorme de futuros compadres e comadres para registro das crianças junto ao sacristão. O dito homem, sério, de óculos a promover certo mau-humor, pede o nome da menina:
- Sthephanie – respondo.
- De quê? – insiste.
- Sthephanie Katleen blá, blá.
O cidadão me olhou com a expressão de quem ouvira uma piada.
- Sthephanie Katleen... mania dos pais querê botá um nome estrangeiro e complicado!
Naquele instante, aproveitei a ocasião para desabafar meu descontentamento.
- Até que enfim, alguém que me entende! Concordo: que raio de nome estrambólico, norte-americanizado de uma figa! Quando falei isso para meu cunhado e para minha esposa, quase me excomungaram pelo meu comentário.
- Verdade?
- Verdade. Tanto nome simples e belo como Clara, Ana, Maria, Júlia, Madalena, Sara, tantos, tantos. Sthephanie Katleen, tss, tss...
- Os pais não se tocam, fera. Não sabem que o garoto ou garota irá carregar aquela alcunha para o resto da vida. Sem falar nas combinações de nomes. Quer ver? Outro dia, perguntei a um pai envergonhado: nome da criança? Ele respondeu que era Adolfo.
- Clássico. Não vejo mal algum.
- É, só que seu sobrenome era Dias.
- Adolfo D..., é, fica esquisito.
De repente, senti a leve cutucada de minha esposa nas costelas, pedindo para interromper aquele diálogo. Melhor obedecer.
Hora da missa. Fim da missa. Hora do batismo e do chamamento dos batizandos.
- Adriana, Aline, Celso, César, Cláudio... – anuncia o sacristão.
“Que nomes tão normais!”, admirei.
- John Highlander!
Risos da platéia.
“Puxa, um imortal entre nós”, pensei.
- Sthephanie Katleen!
Murchei. Meu acabrunhamento piorou quando o sacristão conseguiu o prodígio de transformar uma designação de pronúncia inglesa em francesa. Minha comadre olhou-me sem graça. Sorri em vingança.
A cerimônia terminara. Meus acompanhantes ficaram injuriados pelos meus comentários antes da missa.
- Você precisa respeitar a opinião dos outros!
- Vocês têm razão, Me desculpem.
Caríssimos, sei que estava errado, mas até onde chega os limites da criatividade paterna e materna no que se refere aos nomes dados aos pimpolhos? Conheço um cidadão que registrou seu filho bastardo como Pordeus. Isso mesmo, Pordeus. Nada contra Nosso Senhor que nos protege e a Quem devemos ser gratos pela saúde e inteligência que detemos. Porém, imaginemos os diálogos, as expressões daqui a alguns anos:
- Por Deus, quem fez isso?!
- Não fui eu, juro! – responderia o moleque, sem seu interlocutor estar se referindo a ele e por aí vai.
Para finalizar: estava decidindo colocar o nome de meu terceiro rebento como Sofia caso fosse menina. Acho simples e belo. Mudei de idéia no meio da noite, gritando para a minha esposa que, coitadinha, dormia até então.
- Mulhé, não pode ser Sofia caso seja menina!
- Mas isso são horas de me acordar com um assunto desses! Por que não?
- Porque o sobrenome será Pinto.
- E daí?
- Sofia Pinto não fica bem...
Lembrei do tal Adolfo.