O EXORCISTA

O EXORCISTA

histórias insólitas

Pois meus amigos e minhas amigas, “entre o céu e a terra há mistérios que a nossa vâ filosofia não consegue entender”.

Naquele tempo era uma tarde quente de um verão como outro qualquer qualquer, e hora costumeira da sesta, em que tudo e todos paravam, e se refugiavam à sombra das frondosas latadas no pátio de suas casas ou à sombra amiga de alguma árvore que, além de seus saborosos frutos, protegem do sol nos dias quentes de verão.

A passarada em bandos descia aos valeiros para beber a água fresca e se refugiar naqueles lugares cuja temperatura era como se de gigantes refrigeradores, entretanto mais aprazíveis, posto que, naturais, de um doce e imenso telúrico.

Aquele verão era pra ser igual a tantos outros verões, não fosse um detalhe, um inusitado acontecimento. A malta miúda, que àquela hora todos os dias se esgueirava à socapa da guarda dos pais e corria para o rio para desfrutar da delícia da água refrescante e cristalina,e dar vasão a suas brincadeiras, naquela tarde desistiu dos seus quase suicidas mergulhos do alto do grande carvalho que se debruçava sobre o rio, e rumou para a eira onde o seu companheiro de brincadeiras, guardadava da cobiça das galinhas que andavam por ali à solta, o precioso milho que ali se encontrava para secar, e posteriormente guardar.

Chegados, pois, à eira e sem mais delongas fazem o convite para outras aventuras no que, de imediato foi aceito, abrindo assim a guarda às galinhas, que nesse dia devem ter rebentado o papo e tirado a desforra dos dias que eram enxutadas à pedrada.

Em lugar vizinho dali, chamado Lomba, andavam a acontecer coisas muito estranhas, e que já começavam a chamar a atenção de outras aldeias vizinhas da feguesia.

Pois á hora da sesta a Maria de apelido Maria da Louza, por a mesma ser do lugar da Louza e, que era casada com o António do lugar da Lomba, estava sendo acometida ou invadida por desconhecido e ousado mafarrico que não deixava a maria em paz na hora que seria para cestiar, maldito mafarrico, dizia a vizinhança que toda se conduía da Maria e talvez com seus temores, não fosse o demo querer também tomar conta de seus corpinhos.

Naquela tarde, a Maria estava aparentemente calma, nada fazendo crer, que daí a instantes transformarse-ia em algo nunca visto por aquelas bandas. Sentada sobre uma arca grande, daquelas em que era costume guardar cereais ou outros mantimentos.

Aos poucos iam chegando os vizinhos, a essas alturas já acostumados às visões e estropolias que o demo provocava na pobre criatura..

De repente, a desditosa jovem senhora começa a escorregar, lentamente, corpo mole, arca abaixo até ao piso da casa onde a mesma se encontrava já agora rodeada de toda aquela gente curiosa. Ficava de boca entreaberta, parecia desfalecida. Eis senão quando, começa a emitir uma voz fininha, que em nada se parecia com a sua voz, e a dizer coisas sem nexo, absolutamente estapafúrdias.

Como de costume, estava também por ali o Nano, que era seu cunhado e, à falta de um exorcista profissional, ele mesmo tomava a si o penoso encargo de exorcisar tal demónio. E, de crucifixo em punho, fazia sobre ela o sinal da cruz, e entre outros despautérios, em voz alta e sonora exlcamava: sai dela diabo, sai dela se não eu te arrebento à paulada... Então, inexplicavelmente, forças estranhas apossavam-se daquele corpo, antes inerte, e era preciso de dois a três homens para subjugá-la.

Como o exorcismo do Nano não resultasse, este enraivecido, enchia a coitada de porrada, que as pessoas passivamente iam aceitadando embora penalizadas da pobre jovem casada. -Afinal era para seu próprio bem, coitadinha!... E todo aquele ritual foi-se repetindo por mais alguns dias, até que alguém deu um basta em tal absurdo, e resolveu que teria de ser chamado o prior da terra, para fazer o legítimo exorcismo. O padre que não era dado a tais rituais foi categórico que tal não, o que deriam fazer era levar a possessa a um médico, aquilo seria um grave distúrbio de saúde, portanto isso teria que assim ser. Uns até concordaram com o padre, porém outros ameaçaram que chamiam o padre do Mosteirinho, localidade que já fica em terras do Caramulo.

Não recordo como tudo terminou.

Sabe-se que os ataques do mafarrico entretanto terminaram e tudo voltou à santa paz. Mas a malta que ao domingos se reunia lá no Cruzeiro ao jogo da malha, quando mal lubrigavam a figura do Albano, lascavam a uma só voz: sai dela diabo sai dela...

Pobre do Nano, como não bastasse todas as peripécias em que esteve envolvido nos seus exorcismos, tinha que suportar agora a gozação daquela maldita canalha.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 05/05/2011
Código do texto: T2951403